N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Resenha de Graphic Novel: "Criminal: Covarde" (2006-2007), de Ed Brubaker e Sean Phillips



Nesta graphic novel de “hard-boiled” crime fiction, primeiro volume da série Criminal, Ed Brubaker e Sean Phillips exploram com maestria os meandros da psique de Leo, um criminoso emocionalmente atormentado.

Ele tem como principal objetivo de vida nunca ser capturado, e elabora uma série de regras para seus “trabalhos”. Seguidas à risca, elas o protegem do destino que, no fundo, sabe que merece: a prisão ou a morte.

Chantageado emocionalmente por outra criminosa, que lhe traz à memória fantasmas do passado, acaba se dispondo a quebrar essas regras, aceitando a participação em um roubo de carga, proposto por policiais corruptos. Leo é um planejador inteligente, com muita experiência, e por isso é procurado. Dentro do submundo do crime, porém, sempre há que se manter a guarda, pois qualquer regra quebrada pode ser fatal.

O casamento entre o texto de Brubaker e a arte de Phillips compõe uma atmosfera noir pulsante e cativante, traduzindo a complexidade psicológica que pode revelar, em um criminoso, um ser humano, e não um mero psicopata. Nesse cenário, o anti-herói se confunde com o herói, levando à identificação perturbadora e inquietante do leitor com o protagonista.

Excelente experiência de leitura para amantes do gênero e leitores de mente aberta, dispostos, através de um texto fluente e uma arte insinuante, a mergulhar na análise de uma psique ambígua e angustiada.

sábado, 6 de junho de 2015

Resenha de Livro: "O verso do cartão de embarque" (2011), de Felipe Pena


Dividido em capítulos que, em fragmentos, a cada vez se focam em personagens que compõem, sob diversos ângulos, uma mesma história, a narrativa do romance "O verso do cartão de embarque" desafia o leitor a construir o sentido, a partir de cenas breves, memórias soltas e reflexões instigantes.

O estilo varia de capítulo para capítulo, e, em uma leitura mais lenta e paciente, pode ser apreciado em seus detalhes, estimulando uma contemplação que vai além do enredo misterioso.

É um tipo de livro que dá vontade de ler uma segunda vez, logo após terminá-lo, caso se tenha gostado. Como diz uma citação, atribuída a Clarice Lispector, nas páginas finais do livro: "O texto ganha sua secreta redondez, antes invisível, quando é visto de um avião em alto voo. Então, adivinha-se o jogo das ilhas e veem-se canais e mares."

É como se os capítulos fossem as ilhas, cujos canais, as ligações entre eles, e os mares, os temas subjacentes, só pudessem ser delineados após a última frase do livro, cuja totalidade é, então, vista do alto pelo avião, a leitura inteira.

Recomendado para quem gosta de narrativas intrigantes e fragmentadas, que desafiam o leitor a construir o sentido, e para quem gosta de uma linguagem eclética, alternadamente subjetiva, sensível, objetiva, reflexiva e irônica.