Dividido em capítulos que, em fragmentos, a cada vez se focam em personagens que compõem, sob diversos ângulos, uma mesma história, a narrativa do romance "O verso do cartão de embarque" desafia o leitor a construir o sentido, a partir de cenas breves, memórias soltas e reflexões instigantes.
O estilo varia de capítulo para capítulo, e, em uma leitura mais lenta e paciente, pode ser apreciado em seus detalhes, estimulando uma contemplação que vai além do enredo misterioso.
É um tipo de livro que dá vontade de ler uma segunda vez, logo após terminá-lo, caso se tenha gostado. Como diz uma citação, atribuída a Clarice Lispector, nas páginas finais do livro: "O texto ganha sua secreta redondez, antes invisível, quando é visto de um avião em alto voo. Então, adivinha-se o jogo das ilhas e veem-se canais e mares."
É como se os capítulos fossem as ilhas, cujos canais, as ligações entre eles, e os mares, os temas subjacentes, só pudessem ser delineados após a última frase do livro, cuja totalidade é, então, vista do alto pelo avião, a leitura inteira.
Recomendado para quem gosta de narrativas intrigantes e fragmentadas, que desafiam o leitor a construir o sentido, e para quem gosta de uma linguagem eclética, alternadamente subjetiva, sensível, objetiva, reflexiva e irônica.