N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond
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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Pensamentos-Semente


O Amor se difunde do meu centro a todo o ambiente da Terra.

A Sabedoria e a atitude da compreensão, solidariedade e boa vontade se expandem no Planeta.

A Paz nasce e cresce em nós, fluindo, alcançando e preenchendo mais e mais lugares.

A Bondade toca os nossos corações e nós a reproduzimos em nosso cotidiano. 

Eu envio energias amorosas a todos, conhecidos e estranhos, do meu e de todos os países.

Eu envio energias amorosas a todos, nos planos material, emocional, mental e espiritual. 

As nossas almas, unidas no Bem, transbordam, em pensamentos, palavras e ações, na realidade de um mundo que tornamos cada vez melhor.


[A serem usados como mantras na meditação e no dia a dia]

terça-feira, 13 de junho de 2017

Resenha de cinema: "Algumas Garotas" (2013)


"Some Girl(s)"
89'

Direção:
Daisy von Scherler Mayer

Roteiro:
Neil LaBute

Baseado na peça de:
Neil LaBute

Elenco:
Adam Brody, Kristen Bell, Zoe Kazan,
Jennifer Morrison, Mía Maestro, Emily Watson

SINOPSE

Um jovem escritor, prestes a se casar, procura, em diferentes cidades dos EUA, algumas de suas ex-namoradas, para passar a limpo seus relacionamentos antigos e reparar transgressões que cometeu.

RESENHA

Este filme, categorizado erroneamente como comédia em vários sites, não é um filme para diversão. É para reflexão. O que temos aqui é um drama psicológico. Um drama bastante pesado.

| Spoilers a partir deste ponto |

quarta-feira, 17 de maio de 2017

A busca de uma sociedade mais justa e mais equilibrada


Em tempos de cortes no orçamento público e reformas que penalizam os cidadãos que não fazem parte do estrato mais rico da sociedade (que pode até ser resumido, de certo modo, em mais ou menos 1% da população), há de se perguntar se é realmente justo que, numa suposta tentativa de melhorar a economia e as taxas de desemprego, use-se a tática de precarizar ainda mais a situação financeira da parte menos rica da população, ou, para dizer de outra forma, da parte mais pobre da população.

Na verdade, o que os poderes políticos e econômicos instituídos desejam é aumentar ainda mais a sua já escandalosa superioridade monetária em relação ao resto do mundo (pois se trata, aqui, de um processo global).

Nesse sentido, é importante lembrar o estudo, (relatório original aqui) apresentado neste ano (2017) no Fórum Econômico Mundial de Davos, feito pela ONG Oxfam, que, entre outras coisas, mostra que:

. Oito homens brancos detêm a mesma riqueza de toda a metade mais pobre da população mundial *

. 1% da população mundial detém a mesma riqueza dos 99% restantes **

. Os 1.810 maiores bilionários do mundo, dos quais 89% são homens (segundo a revista Forbes), detêm a mesma riqueza dos 70% mais pobres da população mundial ***

. Os 50% mais pobres do planeta detêm menos de 0,25% da riqueza mundial ****



* Relatório Oxfam, página 2

** Relatório Oxfam, página 12

*** Relatório Oxfam, página 5

**** Relatório Oxfam, página 11

O relatório pode ser acessado aqui:

"Uma economia para os 99%"

-

Reportagem da Deutsche Welle:

"ao mesmo tempo em que muitos salários se encontram estagnados, as remunerações dos presidentes e altos diretores de grandes empresas têm disparado. 'Os investimentos em saúde e educação são cortados, enquanto as corporações e os super-ricos reduzem ao mínimo sua contribuição fiscal'".

-

Dentro do sistema econômico em que vivemos, certas profissões, cargos e posições são excessivamente mais bem recompensadas monetariamente do que outras, de maneira injustificável, uma vez que a carga e a importância do trabalho não são tão diferentes a ponto de gerar tamanho abismo.

O capitalismo é como um cavalo selvagem. Ele precisa ser domado para que a Humanidade caminhe com ele proveitosamente, sem risco de se machucar com coices e movimentos bruscos - e de perder o seu rumo.

Caso contrário, ele pode gerar uma desigualdade tão extrema, em termos de renda, que chega a obstruir os direitos que, como civilização, decidimos que são básicos para qualquer ser humano.

A maneira mais conhecida de domar o capitalismo é através das leis - particularmente, dos impostos e sua utilização na concessão de direitos sociais universais, como acesso à saúde, à instrução, a uma vida segura e à aposentadoria, e do estabelecimento de um valor mínimo para o salário de todas/todos as/os trabalhadoras/es, que lhes permita uma vida plena, do ponto de vista aquisitivo.

Os impostos que deveriam compor a maior parte do montante arrecadado são os ligados à renda, como salários, lucros e dividendos, com uma gradação que incida com porcentagens cada vez maiores, à medida em que os rendimentos aumentem.

Mais recursos estariam disponíveis, assim, para ser investidos nos serviços públicos referidos acima - e, também, no sistema previdenciário, que não dependeria somente das contribuições de trabalhadores e empregadores.

A divisão em estratos de riqueza ainda existiria, mas a distância entre um e outro não seria tão grande (ou imensa, como é hoje).

Ao mesmo tempo, o desejo do enriquecimento ou da manutenção da riqueza, que move tantos e é considerado por muitos o motor do desenvolvimento, conservaria o seu espaço - dando maior relevo, porém, à importância dos outros valores da vida.

A isenção dos impostos ligados ao consumo, especialmente aos produtos mais básicos e também aos que podem proporcionar a evolução de toda a sociedade, também é justa e necessária, além de benéfica para todos os estratos sociais.

Mas elaborar leis não é suficiente.

Paralelamente a isso, para que os indivíduos que ocupam os cargos públicos, responsáveis pelo manejo dos recursos arrecadados, os utilizem de forma honesta e competente, é fundamental haver também uma mudança ética na sociedade como um todo.

Não se pode esperar que essa mudança venha exclusivamente a partir dos/das governantes, legisladores/as e juízes/as. Afinal, eles/elas refletem e reproduzem, sob vários ângulos, o que nós somos como coletividade.

A regeneração deles/delas está condicionada à de toda a população, e esta só acontecerá quando cada um de nós procurar constantemente se transformar para melhor, tanto em relação ao cumprimento das leis institucionalizadas, como também quanto ao senso de justiça e respeito nas relações cotidianas com outras pessoas, sejam próximas ou estranhas.

Quando uma pessoa busca sinceramente evoluir eticamente, toda a sociedade evolui junto com ela. Toda pessoa faz diferença. Suas atitudes, comportamentos e mentalidades influenciam a maneira como o mundo caminha. E todos temos margem para tornarmo-nos seres humanos melhores, sempre.

Tomando as rédeas da evolução de nossas vidas particulares, em termos de honestidade, cuidado, solidariedade, responsabilidade e respeito, estamos tomando as rédeas da evolução de nossa vida como sociedade.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Nós, nossas opiniões e o diálogo verdadeiro

Muitas vezes, confundimos nossas crenças e opiniões com nós mesmos (de maneira consciente ou inconsciente). Quando fazemos isso, ao expressar nossos pontos de vista, nos sentimos ofendidos ou irritados quando outros discordam de nós, como se o nosso valor como indivíduos (especialmente nossa inteligência) dependesse de estarmos certos ou errados a respeito de algum assunto – que, muitas vezes, envolve inúmeros fatores e perspectivas, tendo como consequência um alto grau de subjetividade. Então, ficamos sempre com os nervos à flor da pele, prestes a nos enraivecer logo que alguém diga algo diferente de nossas próprias crenças.

A diferenciação clara entre o que somos e o que pensamos é algo que pode trazer muita serenidade. Fazendo essa distinção, nos tornamos capazes de ouvir as opiniões discordantes de outras pessoas, sem a tendência de nos irritarmos com elas, já que não achamos que elas estão nos agredindo ou menosprezando nossa inteligência. Estão apenas dizendo o que pensam, tendo como base não só o raciocínio, mas também suas trajetórias de vida, experiências e temperamentos – fatores que inevitavelmente se misturam às concepções de todos nós e contribuem para formar nossa visão de mundo.

Isso não significa que devemos sempre concordar com os outros, abandonando nossas próprias crenças e opiniões. É importante pensar por si mesmo, exercendo a faculdade do discernimento e da reflexão. Porém, com a consciência de sermos imperfeitos, e, portanto, sujeitos também a crenças e opiniões equivocadas, podemos nos abrir ao que o outro diz e considerar com calma e atenção seus pontos de vista. Podemos fazer isso sem medo, pois já temos consciência de que não somos nossas opiniões, e de que somos capazes de mudá-las, caso venhamos a perceber que eram equivocadas. A disposição de mudar de ideia é um elemento da inteligência, pois somos seres em constante movimento, sempre podendo evoluir de muitas formas.


Ao mesmo tempo, dependendo do caso, se houver a percepção de alguma abertura por parte do outro, podemos, através de argumentos lógicos e embasados, tentar fazê-lo questionar-se e rever suas opiniões.

Se não somos nossas crenças e opiniões, o que somos então?

Somos seres complexos e multidimensionais, e é difícil, se não impossível, apresentar uma definição completa. Mas creio que, em grande medida, somos nossos valores e as atitudes que tomamos a partir deles.

Muitas pessoas compartilham (ou pretendem compartilhar) valores como a solidariedade, o amor, a honestidade, a busca de justiça e de sabedoria, a determinação, a fé, a compreensão, o perdão, a paz, o respeito, a vontade de melhorar sempre.

Mas talvez, neste ou naquele momento da nossa caminhada, estejamos adotando opiniões e crenças que, se pensarmos bem, não são condizentes com nossos valores.  Não somos infalíveis, nossa capacidade de raciocínio não é absoluta. E pode ser que, justamente numa conversa com outra pessoa, passemos a perceber essa distância entre nossas opiniões, nossas atitudes e nossos valores. Podemos refletir sobre o que ela diz, não para concordar imediatamente, mas para, ponderando com cuidado, clarear nossa mente e nosso pensamento. Nesse sentido, a serenidade conquistada contribui muito para fazer avaliações mais razoáveis e precisas.

E então podemos, ou mudar de opinião, ou perceber com mais fundamento e convicção que o que pensávamos era mesmo a opinião condizente com nossos valores. Dessa forma podemos, ou chegar a um consenso ou, mantendo o respeito mútuo, estabelecer uma discordância com paz, sem estarmos sujeitos a estresse, irritação, desentendimentos e desgaste emocional, pois não encaramos o diálogo como uma disputa em que, ao final, um lado vence e o outro perde. Pois, no diálogo produtivo, todos podemos ganhar. Basta lembrar sempre de nossa dignidade humana essencial, assim como a do outro.

O diálogo verdadeiro é um ideal difícil de atingir, provavelmente impossível em plenitude, mas como toda utopia, pode servir como norte e busca. Empenhar-se para ir em sua direção já é um grande bem.

domingo, 5 de junho de 2016

Resenha de Cinema: "Casamento de Verdade" (2015)


"Jenny's Wedding"
94'

Direção e Roteiro: 
Mary Agnes Donoghue

Elenco: 
Katherine Heigl, Linda Emond, Tom Wilkinson, 
Grace Gummer, Alexis Bledel

SINOPSE

Jenny está em um relacionamento amoroso sério com uma mulher há cinco anos, e resolve se casar. O problema é que ela vem escondendo sua homossexualidade da família por toda a sua vida. Ela terá que enfrentar o desafio e as consequências de finalmente se assumir.

RESENHA

“Casamento de Verdade” não é um filme sobre a história de amor de um casal, mas sobre a história de amor de uma mulher com sua família – especialmente seu pai e sua mãe.

| Spoilers a partir deste ponto |

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Resenha de Cinema: "Frances Ha" (2012)


"Frances Ha"
86'

Direção:
Noah Baumbach

Roteiro:
Noah Baumbach e Greta Gerwig

Elenco:
Greta Gerwig, Mickey Sumner, Michael Zegen

| Contém Spoilers |

sábado, 14 de maio de 2016

Resenha de Cinema: "O Grande Truque" (2006)



"The Prestige"
130'

Direção:
Christopher Nolan

Roteiro:
Jonathan Nolan, Christopher Nolan
Christopher Priest (Romance)

Elenco:
Christian Bale, Hugh Jackman,
Scarlett Johansson, Michael Caine, David Bowie

Várias pessoas se decepcionaram com O Grande Truque, por terem descoberto os truques na metade do filme. Porém, para mim, o que o ele oferece vai além da descoberta desses truques.

| Spoilers a partir deste ponto |

terça-feira, 10 de maio de 2016

Resenha de Cinema: "Françoise" (2001), de Rafael Conde

Assisti a este curta-metragem pela primeira vez na Mostra de Tiradentes, em 2002, e ele me impactou muito, com seus intensos vinte e poucos minutos. Anteontem o revi e o abalo foi o mesmo.

A riqueza psicológica da protagonista é imensa. 

| Spoilers a partir deste ponto |

sexta-feira, 18 de março de 2016

Citação: N. Sri Ram

"Deveríamos ter seriedade de propósito, e ao mesmo tempo uma atitude de serenidade relaxada e feliz."

Pensamentos para aspirantes ao caminho espiritual.

N. Sri Ram

- Capítulo XX

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A "seriedade de propósito", que (na minha interpretação), poderia ser traduzida como firmeza, assertividade e foco, teria seus objetivos prejudicados, caso o nervosismo e a irritação a acompanhassem.

Muitas vezes, agimos sob o domínio da raiva e da agitação emocional, e isso acaba dificultando a realização dos propósitos que almejamos.

A serenidade ajuda a mente a pensar melhor, a raciocinar com mais precisão, a ver com mais clareza a amplitude e a complexidade das questões, oferecendo a possibilidade de fazer análises e reflexões a partir de várias perspectivas.

É com clareza e equilíbrio que as melhores decisões são tomadas. Ter o domínio das próprias emoções permite que as ações sejam mais efetivas, pois podem ser executadas a partir de bases e argumentações mais sólidas.

O pensamento raivoso dá margem a buracos na consistência das afirmações, e leva a ações que mais destroem do que constroem, contribuindo pouco ou nada para a evolução dos indivíduos e da sociedade.

- Que possamos ser uma sociedade mais serena, equilibrada e respeitosa à diferença. Essas são qualidades que fortalecem argumentos e ações, contribuindo para o diálogo produtivo e para construir bases mais justas e eticamente harmônicas para as interações coletivas, fluindo firmemente para a melhora permanente das condições de vida de todos.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Citação: Eckhart Tolle

"A verdadeira riqueza é a radiante alegria do Ser e a profunda e inabalável paz que dela advém."

O poder do agora
(1997)

Eckhart Tolle
(1948- )

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A "radiante alegria do Ser" é a única sobre a qual temos total controle, pois depende de uma atitude pessoal, independente de qualquer circunstância.

Quando cultivamos essa alegria, somos mais produtivos e realizados, encontrando vitalidade no trabalho e nas relações, tendo maiores chances de alcançar tanto a riqueza proposta por Tolle, quanto a prosperidade material.

Ela pode proporcionar o vigor, a energia, a força e a coragem para dar passos para a construção de uma sociedade mais fraterna, com uma distribuição mais equilibrada de recursos e valores, na busca de bem-estar e qualidade de vida para todos.

A alegria e a paz profunda e inabalável podem ser encontradas, dentro de cada um de nós, quando conquistamos o poder de orientar as nossas próprias emoções e pensamentos, através do autodomínio e da serenidade. Exercendo esse autodomínio, elas podem ser alcançadas e estabilizadas, desde que haja prática, confiança, comprometimento e paciência.

Deve ser lembrado que vivemos em uma realidade em que o movimento é constante, o que torna a estabilidade sempre relativa. O que podemos fazer é tornar as flutuações mais suaves, adquirindo um estado de espírito habitual, firme e equilibrado.

É preciso, também, respeitar a escolha de cada um. Não há obrigação nenhuma para todos seguirem o mesmo caminho. Existem muitos caminhos, e a liberdade de se sentir e se expressar como se deseja é um direito inalienável, nos limites da ética e do respeito.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Resenha de Graphic Novel: "Criminal: Covarde" (2006-2007), de Ed Brubaker e Sean Phillips



Nesta graphic novel de “hard-boiled” crime fiction, primeiro volume da série Criminal, Ed Brubaker e Sean Phillips exploram com maestria os meandros da psique de Leo, um criminoso emocionalmente atormentado.

Ele tem como principal objetivo de vida nunca ser capturado, e elabora uma série de regras para seus “trabalhos”. Seguidas à risca, elas o protegem do destino que, no fundo, sabe que merece: a prisão ou a morte.

Chantageado emocionalmente por outra criminosa, que lhe traz à memória fantasmas do passado, acaba se dispondo a quebrar essas regras, aceitando a participação em um roubo de carga, proposto por policiais corruptos. Leo é um planejador inteligente, com muita experiência, e por isso é procurado. Dentro do submundo do crime, porém, sempre há que se manter a guarda, pois qualquer regra quebrada pode ser fatal.

O casamento entre o texto de Brubaker e a arte de Phillips compõe uma atmosfera noir pulsante e cativante, traduzindo a complexidade psicológica que pode revelar, em um criminoso, um ser humano, e não um mero psicopata. Nesse cenário, o anti-herói se confunde com o herói, levando à identificação perturbadora e inquietante do leitor com o protagonista.

Excelente experiência de leitura para amantes do gênero e leitores de mente aberta, dispostos, através de um texto fluente e uma arte insinuante, a mergulhar na análise de uma psique ambígua e angustiada.

sábado, 6 de junho de 2015

Resenha de Livro: "O verso do cartão de embarque" (2011), de Felipe Pena


Dividido em capítulos que, em fragmentos, a cada vez se focam em personagens que compõem, sob diversos ângulos, uma mesma história, a narrativa do romance "O verso do cartão de embarque" desafia o leitor a construir o sentido, a partir de cenas breves, memórias soltas e reflexões instigantes.

O estilo varia de capítulo para capítulo, e, em uma leitura mais lenta e paciente, pode ser apreciado em seus detalhes, estimulando uma contemplação que vai além do enredo misterioso.

É um tipo de livro que dá vontade de ler uma segunda vez, logo após terminá-lo, caso se tenha gostado. Como diz uma citação, atribuída a Clarice Lispector, nas páginas finais do livro: "O texto ganha sua secreta redondez, antes invisível, quando é visto de um avião em alto voo. Então, adivinha-se o jogo das ilhas e veem-se canais e mares."

É como se os capítulos fossem as ilhas, cujos canais, as ligações entre eles, e os mares, os temas subjacentes, só pudessem ser delineados após a última frase do livro, cuja totalidade é, então, vista do alto pelo avião, a leitura inteira.

Recomendado para quem gosta de narrativas intrigantes e fragmentadas, que desafiam o leitor a construir o sentido, e para quem gosta de uma linguagem eclética, alternadamente subjetiva, sensível, objetiva, reflexiva e irônica.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O "palanque whatsapp" e o "pensamento fast-food"

Tornou-se comum, no whatsapp, o compartilhamento de textos, que são repassados de grupo em grupo – como é o caso deste aqui.

Muitos deles versam sobre política.

Esse é um assunto que interessa a todos, já que a política diz respeito ao que é de interesse público. Assim, é da maior importância que haja compreensão plena dos textos que cada um compartilha com seus grupos.

Muitas vezes me pergunto se essa compreensão é sempre clara para todos os que repassam tais textos. Em geral, são textos críticos, de tom exaltado – e é fácil entender por quê.

Os governos, em todas as suas esferas, executiva, legislativa e judiciária, estão, de fato, em um nível muito baixo de qualidade, de justiça e de honestidade, e, portanto, merecem muitas críticas.

(Para dizer o mínimo.)

Além disso, sempre há opiniões diferentes sobre que programas devem ser executados, e é saudável estabelecer um diálogo sobre que direção os governos devem tomar.

Mas me parece que, em muitos desses textos, o que provoca a simpatia dos leitores, e seu repasse a outros grupos, é um “tom” geral que os permeia. Um “tom” que dá a impressão de ser “contra” este ou aquele partido, este ou aquele programa de governo.

E, assim, tomando-se o “tom” como oposição ao que se considera equivocado ou injusto, todas as minúcias, todos os detalhes do texto, acabam passando como verdades, que “consumimos” e adotamos sem muita reflexão.

A própria natureza do whatsapp (e também do e-mail, onde textos do tipo também circulam) é a da velocidade. Instantes depois de recebermos cada mensagem, novas mensagens aparecem, e passamos rapidamente de uma a outra. Além disso, recebemos as mensagens no meio dos nossos afazeres cotidianos, então é difícil se demorar em cada uma delas.

Mas essa velocidade pode impedir que haja uma compreensão mais exata de cada uma das afirmações dos textos, sendo absorvido apenas o “tom” deles. A compreensão demanda um certo tempo, pois é necessário refletir sobre o que é lido.

Muitas vezes as afirmações presentes nos textos possuem implicações que não são claramente percebidas. E, desta forma, vai se formando uma opinião pública, que é baseada na repetição de pensamentos, e não na reflexão autônoma sobre eles.

É como se estivéssemos sendo consumidores de pensamentos “fast-food”.

E esse é um tipo de pensamento que não nutre a nossa mente. Um tipo de pensamento que não a fortalece. Um tipo de pensamento que não contribui para nossa evolução como sociedade.

Pois é um tipo de pensamento em que, ao invés de pensar, nós “somos pensados”.

E os autores dos textos acabam arregimentando simpatizantes, aproveitando um sentimento de indignação legítimo para, subliminarmente, disseminar opiniões que lhes interessam. Opiniões, muitas vezes, enganadoras, falaciosas, com implicações imprevistas, baseadas em supostos “fatos” que, se fossem checados, se revelariam falsos.

Tomando este próprio texto como exemplo, consideremos:

Há, em algum momento, uma crítica direcionada a este ou aquele partido, a este ou aquele programa de governo? Ou é somente o “tom” do texto que dá essa impressão?

Pois o que tento dizer não é que este ou aquele partido está certo, este ou aquele programa é desejável ou não, esta ou aquela opinião é correta ou errada.

A questão, aqui, é entender com profundidade o que estamos lendo. E, assim, ter mais poder sobre nosso próprio pensamento. Poder para formar opiniões mais claras. Mais consistentes. Mais embasadas. Mais refletidas. E, no fim das contas, mais fiéis à nossa própria maneira de ver o mundo.

E, assim, poder estabelecer diálogos mais produtivos, que transcendam o nível das ofensas e atinjam o nível da busca clara, e ao mesmo tempo firme, daquilo que deve nortear a política do nosso país, do nosso estado, da nossa cidade.

Lembrando sempre que o respeito à opinião do outro é indispensável para a democracia e para o avanço de nossa sociedade. Não é desqualificando o outro que se evolui, mas através da participação consciente e do diálogo produtivo.

E diálogo é diferente de dois monólogos se enfrentando.

Ouvir, abrindo-se para entender e refletir sobre o que se ouve, é tão importante quanto falar.

Protestar é fundamental para a melhora da nossa sociedade, mas é o protesto com pleno conhecimento de causa que pode garantir uma melhora verdadeira.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Evolução

Ouvimos, com certa frequência, a frase “não sou perfeito”. Poucos de nós ousariam afirmar o contrário.

Muitos talvez o pensem, possivelmente sem ter consciência disso. E, então, agem de forma arrogante e desdenhosa com os outros. Mas, para a maioria de nós, a consciência das próprias limitações é bastante clara - mesmo que possa ser perdida neste ou naquele momento de distração, em que nos consideramos infalíveis, donos da verdade, irrepreensíveis. 

Meu pai costuma dizer que o ser humano não é perfeito, mas é perfectível. Eu interpreto essa frase como uma indicação de que, apesar de nunca podermos chegar a ser perfeitos, podemos sempre evoluir. Sempre nos tornarmos pessoas melhores.

Uma de nossas tendências mais comuns, que tem a ver com a sensação de sermos perfeitos, é a de condenar os outros. 

(Não se trata, aqui, das condenações de cunho judicial, que devem, evidentemente, resultar em punições e - o que ainda precisa ser mais desenvolvido - processos de ressocialização)

Essa tendência também provém do nosso desejo de evolução, pois parte de uma percepção de algo que não está bom. Porém, ela não costuma ser produtiva. A condenação, neste sentido específico, é diferente da crítica, pois se dirige à pessoa, e não ao comportamento ou à ideia. 

Quando condenamos alguém, é como se colássemos o comportamento condenável, ou a ideia que consideramos falsa ou absurda, à sua personalidade. Como se não houvesse espaço para a evolução, para a melhora, para o diálogo. A crítica, ao contrário, ou pelo menos a crítica verdadeiramente construtiva, mira o comportamento ou a ideia, e não a pessoa.

É impossível sermos humanos e vivermos sem crítica. Se não fosse assim, não evoluiríamos, já que consideraríamos tudo perfeito como está. E nosso impulso de melhorar não combina com tal crença. Só temos que saber usar a dose certa, nos momentos certos, pois a crítica, em excesso e mal colocada, pode ser opressiva, e terminar não contribuindo para evolução alguma.

Faríamos bem em praticá-la apenas quando fosse de fato contribuir positivamente, sempre com respeito, serenidade e espírito amistoso, além de nunca esquecer de reconhecer, valorizar e elogiar as atitudes louváveis - assim elas serão estimuladas.

Quando usamos a faculdade crítica direcionando-a somente ao outro, e nunca a nós mesmos, estamos nos impedindo de evoluir, tanto como indivíduos quanto como sociedade. E, para direcionar nossa faculdade crítica a nós mesmos, precisamos ter humildade. Precisamos ter a percepção de que não somos perfeitos, mas que somos perfectíveis. O meu comportamento de hoje pode ser condenável, ou pelo menos, de algum modo, imperfeito, e meu pensamento pode ser inconsistente e equivocado. Mas, como membro da humanidade, eu tenho um valor essencial, que me permite superar esse comportamento ou modo de pensar, e me tornar uma pessoa melhor e mais ponderada.

E isso vale para todos nós.

A evolução coletiva sempre passa pela evolução pessoal. Se queremos uma sociedade mais amorosa, ou pelo menos mais solidária, mais justa, mais honesta, mais responsável, é preciso que cada um de nós se torne mais amoroso, mais solidário, mais justo, mais honesto, mais responsável.

Geralmente, tendemos a achar que já somos tudo isso. E que o problema é que os outros não são. E, como não temos poder sobre o outro, não temos como contribuir para melhorar nossa sociedade. Eu tendo a pensar que, mesmo se quisermos considerar que temos um caráter superior ao da maioria, sempre podemos melhorar-nos ainda mais.

E é como se, cada um evoluindo, levasse os outros consigo, juntos, como cada gota acompanha outras em uma onda do oceano.

Pois somos seres relacionais.

Independente da qualidade de nosso caráter de hoje, se o melhorarmos ainda mais, inevitavelmente influenciaremos de forma ainda mais positiva os que estão à nossa volta. E estes, por sua vez, influenciarão mais positivamente os que estão à volta deles. E toda essa positividade se difundirá pela sociedade e nos tocará novamente, numa nova onda.

Para fazer parte deste oceano de evolução, não precisamos esperar que os outros mudem. Que os outros se tornem melhores. 

Sejam esses outros os políticos corruptos, os empresários gananciosos, os chefes tiranos, os familiares e colegas de convivência difícil, os profissionais desonestos, os estranhos mal-educados, ou quem quer que seja.

Para fazer parte deste oceano de evolução, só precisamos nos tornar uma de suas gotas. Melhorando a nós mesmos, melhoraremos o mundo.

A cada dia um pouco mais.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Fortaleza

Eu construo minha fortaleza com tijolos de força e cimento de amor, executando o projeto traçado na folha do mundo com o lápis da minha alma. Coloco-me a serviço da engenheira sabedoria, que, generosa, orienta os que a buscam no alegre labor. Meu corpo trabalha no ritmo da harmonia, minhas mãos abrindo as janelas da paz. Da torre, derramo o canto da beleza, e, no solo, abro as portas pisando a terra da comunhão.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

The Liebster Award



Olá!

O o blog Leitores Forever (leitoresforever.blogspot.com.br) nomeou o A Rocha, A Água, junto com outros 11 blogs, para participarem
dessa TAG. Seu objetivo é ajudar blogs que ainda estão no começo, principalmente os com menos de 200 seguidores.

As regras são:

Escrever 11 fatos sobre você;
Responder as perguntas de quem te indicou;
Indicar de 11 a 20 blogs com menos de 200 seguidores;
Fazer 11 perguntas para quem indicar;
Colocar uma imagem que mostre o selo Liebster;
Linkar quem te indicou.

11 fatos sobre mim

1. Considero tratar bem as pessoas (tratá-las, no mínimo, com respeito) essencial.

2. Sei que, como somos humanos, cometemos erros no trato com os outros. Mas é essencial pedir desculpas depois, e se dedicar a não repetir o erro.

3. Tento lembrar-me sempre de que não sou essencialmente melhor do que ninguém, e nem minhas opiniões são intrinsecamente superiores às dos outros.

4. Acho importante deixarmos uma marca positiva no mundo, dedicando-nos com determinação ao ofício que amamos, lutando por nossos ideais, respeitando a diferença.

5. Seria muito duro para mim viver sem arte, especialmente música, cinema e literatura.

6. Escrever, para mim, é uma questão de sobrevivência, e não me refiro simplesmente a finanças.

7. Acho que devemos sempre procurar evoluir, como profissionais, como pessoas e como membros da coletividade.

8. Assino embaixo da frase "Guardar rancor é como beber veneno e esperar que o outro morra". O perdão é libertador para todos os envolvidos, e não é sinônimo de permissividade.

9. Creio que nossos pensamentos, tanto quanto nossas palavras e nossas ações, formam quem somos e, em grande parte, o que nos acontece.

10. Acredito em karma. Tudo o que fazemos, de bom ou de mau, volta para nós.

11. Para mim, tolerância e respeito são fundamentais, seja em relação a orientação religiosa (incluindo ateus e agnósticos, de religiosos para com eles e deles para com os religiosos), cor da pele, nacionalidade, classe social, orientação sexual, gênero e qualquer outro fator que não envolva algum tipo de violência.


Blogs que indico

1. Fragellytée
    fragellytee.blogspot.com.br

2. World Wide Suicide
    wwsuicide.blogspot.com.br

3. Cálida Poesia
    calidapoesia.blogspot.com.br

4. Let it be
    inconsequentereflexao.blogspot.com.br

5. Imaginação orgânica
    cronicamenteorganica.blogspot.com.br

6. Lado céu: o dito nunca te assumirá como uma mera coincidência
    larissapujol.blogspot.com.br

7. Recordar, Repetir e Elaborar (este não tem contagem de seguidores)
    recordarrepetirelaborar.wordpress.com

8. De solas e asas
    desolaseasas.blogspot.com.br

9. Danielle Means
    daniellemeans.wordpress.com

10. a voz da lua (este tem mais de 200, mas...)
    avozdalua.blogspot.com.br

11. História de cordel
    www.historiadecordel.com.br

12. Artigo indefinido, feminino, singular
    indefinida.blogspot.com.br

13. Astro-Síntese - Projeto Luminar (este não tem contagem de seguidores)
    projetoluminar.wordpress.com


Perguntas de quem me indicou

1. Qual livro fez com que você começasse a gostar de ler?

Não sei bem ao certo. Provavelmente, Mar morto, do Jorge Amado. Na infância, lia Turma da Mônica toda semana.

2.Qual adaptação literária você mais gostou? E qual vocês menos gostou?

A que mais gostei foi a de Abril Despedaçado. É um dos três filmes que mais amo. A que menos gostei... não estou sabendo responder... talvez Nina, que é uma versão livre de Crime e Castigo.

3. Qual sua banda favorita?

Purusam. É uma banda sueca que mistura hardcore e metal progressivo. Existiu entre 1994 e 1998.

4. Qual sua série de TV favorita?

Friends. Mas ultimamente a que mais assisto é The Big Bang Theory. Adoro.

5. Qual seu maior talento?

Acho difícil dizer. Alguns dizem que sou um bom ouvinte.

6. Você se arrepende de ter lido algum livro? Qual?

Não me arrependo. Mesmo os de que não gostei serviram como experiência.

7. Qual seu livro favorito? Por quê?

A educação sentimental, do Flaubert. É um livro que explora todos os desejos, frustrações, qualidades e defeitos de uma geração (no caso, a dos jovens da década de 1840). Em sua riqueza de personagens, cada um com sua personalidade marcante, traça um painel admirável da condição humana. Mostra a dificuldade de se manter fiel aos seus ideais, e como essa fidelidade pode levar a sofrimentos extremos, embora heróicos. Apresenta também uma reflexão sobre o que é o amor verdadeiro, que é diverso do amor fantasiado e idealizado, e sobre o conflito que muitas vezes se estabelece entre diferentes tipos e alvos de amor. E indica a maneira como a ingenuidade seja talvez o maior tesouro da vida, apesar de não responder como mantê-la, através das experiências duras da existência, ao longo dos anos que passam.

8. Você teria coragem de homenagear seu livro favorito fazendo uma tatuagem? Se sim, como ela seria?

Creio que não. Pensei em outro dos meus três filmes preferidos, o Morangos Silvestres. Daria para fazer a tatuagem de um morango... mas nem isso eu faria, rs. Porém, se contarem livros de astrologia, eu até já fiz, pois tenho vários símbolos do meu mapa tatuados nos braços.

9. Qual sua comida favorita?

Acho que são os cookies de gotas de chocolate que minha irmã faz. Quanto a comidas salgadas, varia. As mais frequentes são o macarrão com tofu e legumes do restaurante Macau (aqui de BH), a pizza vegetariana da Burnet's e, quando estou mesmo com vontade, o bom e velho arroz com feijão, legumes, folhas, macarrão e farofa.

10. Do que você tem medo?

Prefiro não falar sobre meus medos em público... Mas, sempre que tenho qualquer medo, pronucio mentalmente palavras como coragem, confiança e força, tento imbuír-me da energia delas e sigo em frente.

11. Você coleciona marcadores de livros?

Não, mas tenho um bocado.


Minhas perguntas:

(Vou repetir algumas das que me foram feitas)

1. Que livro fez com que você se apaixonasse pela leitura?

2. Qual é o seu livro preferido? Por quê?

3. Qual é adaptação de livro para cinema de que você mais gosta? E a de que menos gosta?

4. Você acha que o livro é sempre melhor do que a adaptação cinematográfica?

5. Você se arrepende de ter lido algum livro? Qual? E por quê?

6. Você gosta mais de que gênero de livros?

7. Há alguma outra forma de arte de que você gosta mais do que a literatura?

8. Como é o processo da sua escrita?

9. Você sabe algum poema ou trecho de livro de cor? Cite um pedaço.

10. Você já leu algum livro mais de uma vez? Qual foi, ou quais foram? E quantas vezes leu?

11. Se tivesse que indicar 5 livros para quem está começando a ler, quais seriam?

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Evoluir, não somente através do voto

Não devemos subestimar a contribuição que cada um de nós pode dar à sociedade, indo muito além do voto nos governantes.

Todos temos margem para evoluir como seres humanos, tornarmo-nos pessoas melhores, com cada vez mais frequentes e profundas energias, palavras e atos de amor, justiça, esperança, sabedoria e tantas outras virtudes, em nossa vida do dia a dia.

A indignação é importante, mas não deve ocupar totalmente o lugar desses outros sentimentos. Se melhorarmos a nós mesmos, transmitiremos naturalmente essa melhora às pessoas à nossa volta, aos ambientes que frequentamos, e, consequentemente, à sociedade em que vivemos.

Acredito que devemos sempre tentar fazer a serenidade e a humildade acompanhar as críticas, o máximo que pudermos, pois as vibrações de paz e amor que gerarmos serão importantes, inclusive, para termos a noção mais inteligente de como nos conduzir como cidadãos que contribuam para a melhora do nosso país.

Tendo maior ou menor sucesso nesse objetivo, o importante é não desistir de fazer o bem e de acreditar na possibilidade de evoluirmos como indivíduos e como coletividade.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Citação: Alice A. Bailey (1880-1949)

"Eu ressalto aqui que o verdadeiro amor ao grupo nunca se manifesta como ódio ao indivíduo. Ele pode resultar no impedimento das suas atividades ou empreendimentos, quando isso é considerado desejável em vista do interesse do todo, e se o que ele está fazendo é visto como um dano ao bem coletivo. Mas o impedimento não será destrutivo. Será educativo e terá a evolução como resultado."

O destino das nações
(1949)

Alice A. Bailey
(1880-1949)

- Tradução minha

Considero muito benéfico manter essas ideias em mente, especialmente nestes tempos pré-eleitorais, em que pode haver uma tendência mais a odiar o adversário do que a amar o coletivo.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Língua: código, pensamento e interação

As principais teorias que, na linguística contemporânea, procuram explicar o fenômeno da língua, podem ser agrupadas em três famílias. Elas se distinguem pela definição que propõem para o objeto: a língua como sistema de códigos, como atividade mental e como atividade social.

A abordagem da língua como sistema de códigos estuda o seu aspecto formal – seus elementos fundamentais (alfabéticos, morfológicos, fonéticos, sintáticos e semânticos) e as relações entre eles. Analisa, sob esse prisma, a maneira como as conexões entre os significantes (os símbolos: o som ou a grafia das palavras) e os significados (aquilo a que os símbolos se referem) criam o sentido, possibilitando a mútua compreensão entre os usuários de determinada língua, através do encadeamento linear das palavras, de acordo com certas regras.

Focalizando a língua como atividade mental, estuda-se a maneira como ela é um instrumento de expressão do pensamento, através de mecanismos mentais inatos, que possibilitam a sua introjeção como realidade interior.

A visão de língua como atividade social a insere nas situações concretas em que é usada, apontando que determinados fatores, ligados ao contexto das interações, são essenciais para a sua compreensão plena. Desse modo, o ambiente em que ocorre o ato de fala, o momento histórico, os conhecimentos prévios compartilhados pelos interlocutores, os preconceitos de cada um, a posição social e as expectativas mútuas devem ser levadas em consideração.

As três escolas, longe de se excluírem mutuamente, proporcionam, em conjunto, cada uma à sua maneira, um conhecimento mais completo do fenômeno da língua.

domingo, 25 de novembro de 2012

Democracia da manipulação

O sistema eleitoral brasileiro possui várias características que tornam o processo democrático falho, distorcido e tendencioso.

A intrusão de interesses da iniciativa privada, na apresentação à população de candidatos a cargos políticos, transforma o que poderiam ser escolhas independentes em escolhas inconscientes, frutos da manipulação da opinião pública.

Isso se dá pelo sistema de financiamento das campanhas, pela propaganda desigual, pelo marketing, pela sugestionabilidade das pesquisas de opinião e pela falta de transparência.

Os candidatos a cargos políticos recebem doações da iniciativa privada para financiar suas campanhas eleitorais. Infelizmente, poucos são os empresários (ou mesmo, em alguns casos, criminosos) que têm em vista o bem-estar da população como um todo, ao investir em um ou outro candidato. Via de regra, depois de eleito, o político irá, de alguma forma, ilegalmente, retribuir o favor a quem contribuiu para colocá-lo no poder, em detrimento dos interesses da população. Além disso, como a desonestidade de um político como esse se torna evidente, o mais provável é que aproveitará sua posição para beneficiar também a si próprio, praticando corrupção e desvio (roubo) de recursos públicos a que terá acesso.

O financiamento das campanhas é usado basicamente na propaganda. Os candidatos investem em marketing, para apresentar-se como o melhor “produto” para a escolha do cidadão. Publicitários profissionais são contratados, e a atenção se desloca, das questões problemáticas da sociedade e a maneira com que cada candidato se propõe a lidar com elas, para a criação e difusão da imagem mais atraente. Através de jingles, imagens cinematográficas, slogans, sorrisos em abundância, e todos os demais elementos da publicidade, repetidos à exaustão na mídia, as candidaturas são “vendidas”, num jogo de aparências que manipula o eleitor, produzindo e recorrendo a uma emotividade que nubla a tomada de consciência necessária para se fazer a melhor escolha.

Como se não bastasse, as doações podem ser anônimas, sendo revelados os nomes dos doadores meses após a conclusão das eleições, o que denota uma danosa falta de transparência.

Na proposta de financiamento público de campanha, combatendo as distorções dos investimentos privados, as verbas são divididas entre os diversos partidos e candidatos, assegurando igualdade ou proporcionalidade de verbas direcionadas à propaganda eleitoral. A apresentação dos candidatos seria estritamente limitada a discursos, sem músicas e sem nenhuma imagem além da do emissor da mensagem. Com o mínimo gasto, cada candidato teria um tempo para falar, ou convocar personalidades para falar, num estúdio modesto – compartilhado por todos – e sem qualquer elemento de marketing. Dessa forma, a população poderia se concentrar nas questões, nas propostas e históricos dos candidatos, atendo-se a uma abordagem mais objetiva. A austeridade do formato de apresentação garantiria o menor dispêndio possível para os cofres públicos.

Poderia ser levantada a objeção de que, caso o Estado fosse o provedor das verbas para a propaganda dos candidatos, os governantes da situação privilegiariam seus correligionários, em detrimento da oposição. Porém, isso seria facilmente percebido e sujeito a denúncias, pela própria natureza da publicidade. A propaganda é feita com o objetivo de chegar às pessoas, e, se um partido ou candidato tiver mais espaço que outros, isso se tornará evidente. Além disso, as leis devem ser feitas para serem as melhores e as mais justas, independente de serem fáceis ou difíceis de cumprir.

Outro problema grave surge quando o candidato que está no poder se utiliza de recursos públicos para financiar propagandas de seu governo. Não se trata, aqui, da proposta de financiamento público de campanha, uma vez que, nesta, os recursos são divididos entre os diversos partidos e candidatos. No caso da propaganda estatal, somente um lado da questão é apresentado, o que configura uso da máquina de governo para autopromoção, desequilibrando as forças eleitorais, com dinheiro que deveria ser aplicado em outros fins, verdadeiramente úteis à condução dos assuntos públicos.

Ainda nesse sentido, as pesquisas de antecipação de voto, chamadas “pesquisas de opinião”, são usadas como elemento de convencimento nas peças publicitárias. O candidato com maior índice de intenção de voto se beneficia, ao apelar para o desejo inconsciente (ou, em alguns casos, consciente) que todo ser humano tem de estar do lado dos vencedores. Ou, ainda, pode haver uma espécie de delegação do próprio voto para a percepção da maioria – uma renúncia à responsabilidade de se empenhar, por si mesmo, na reflexão necessária para escolher bem. Outra questão que se coloca é a confiabilidade dos institutos de pesquisa, cujas atividades são difíceis de ser fiscalizadas – sujeitas, portanto, a se tornar peças no jogo de interesses das candidaturas endinheiradas. Portanto, pesquisas de opinião deveriam ser proibidas. Poderia ser alegado que tal proibição feriria a liberdade de expressão e informação. Porém, dado o teor de sugestionabilidade dessas pesquisas, o que seria direito à informação transforma-se em manipulação. Trata-se de uma informação que não é verdadeiramente relevante, mas, ao contrário, danosa.

Em conclusão, algumas das falhas do processo democrático brasileiro podem ser amenizadas pela separação entre interesses privados e públicos, e pela limitação dos recursos de marketing aplicados à apresentação das candidaturas.