“Meu pai diz que quase o mundo inteiro está dormindo, todos que você conhece, todos que você vê, todos com quem você conversa. Ele diz que apenas algumas pessoas estão acordadas, e elas vivem num estado de total e constante deslumbramento.”
- Joe contra o Vulcão, John Patrick Shanley (1990)
No olhar caindo
um colorido de fluências esparramadas,
em todo canto um sentido,
do seguro ao lugar sem definição
em que manam as imagens.
Sons de cigarras e de carros
no concreto tingido do exíguo verde
remanescente do que era e apenas é
na tela da memória dos elementos básicos,
como a rugosidade das folhas
e a consistência dos troncos,
criação de mágicas suposições
em que a mente se desvia, desvairada
e consciente,
esquecendo a matéria imediata
no fulcro das projeções.
Peregrinar tão cedo,
em cada solfejo do caminho
a carícia do ar entrando
e soprando a atmosfera enriquecida
do hálito dos seres,
atravessando o feio e o bonito
na união inquisidora
das passagens,
pisando com pele ou papila
os gostos múltiplos
dos ventos e das águas,
abrindo ouvidos à luz
e pupilas à sucessão incansável
dos batimentos.
Contemplar os porquês
e as respostas ausentes
interpeladas,
nelas mergulhando
e no estrondo encharcado
implodindo exclamações sem norte.
Mesquinhas usurpações,
na solidão
pérfida e lamentada
de indolentes apartes,
sismos em sangue
clamando o consolo dos unguentos,
aprendizado da insensatez
se arrastando por milênios.
Elaborar no simples
a complexidade pavorosa e fascinada,
destinando-se no presente
à opção inabalada do riso lírico,
envolvendo todos os vazios,
oferecendo às direções instáveis
a flórea radiância,
formulando em gestos ecoados
na concavidade da simpatia,
ou em palavras verberadas
no convexo fleuma do desinteresse,
ligações sem garantia,
magnetismos imponderáveis
de circuitos fugazes,
luminosidade e escuridão
em orlas imprecisas.
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