Os meus anos
foram como degraus
que você,
com sua gana e teimosia,
quis galgar.
Eu era tão alto
que você suspirava
entre vertigens,
rodopiava o rosto,
deixava cair a cabeça
na nuca, expondo
a brancura lívida
do pescoço,
ofertando,
num gesto generoso
e arriscado,
a pele, o pelo, o colo,
o poro.
Meu toque molhado
e o correr vagaroso
dos meus dedos,
no limite da insensibilidade,
te eriçavam, entregue,
subtraindo-te a noção
do tempo e do espaço
na velocidade de um felino,
e você se molhava
ainda mais,
convidando sem dar por si
a zelosa ocupação
de todas as suas cavidades,
tremulando afoita
numa espera abandonada
que eu de pronto atendia.
O depois você não ousou mencionar,
nem eu quis aludir,
para não vir a trair, involuntário,
a fragilidade quebradiça
de qualquer temerário
aceno ou afirmação.
Você aceitou, num tácito compromisso,
meu convite de silêncio reverente
ao porvir incerto,
do calar dos olhares que,
tresloucadamente circunspectos,
se atiram além dos horizontes.
A sua umidade é o seu convite,
reiterado na tessitura das impressões,
e eu o aceito, macio e doce,
em cada nervo, em cada acento,
e em cada recanto em mim
que te grita num sussurro:
agora.
Um comentário:
Lindo. Linda demais essa urgência, o não mencionar o depois, deixar tudo pro agora, em toda a sua "fragilidade quebradiça".
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