eu indagava
o que é que me movia
o que é que incandescia
o que é que me inflamava
convulsionava
o avesso
da moção
(eu era inerte
e perdurava como morto
água gelada
despejada
em minha nuca)
as atrocidades
além das cortinas
dos nossos lares
(e ao pé
dos abajures)
o pulsar de um grito
relampejante na escuridão
de uma manhã de sol
rachando o asfalto
o breu explodia
para num sopro turvo
encobrir a luz
a ranhura insistia em pilhar
meus ouvidos
enquanto tantos se faziam
surdos
afeitos à balbúrdia
e ao engalfinhar
de tantas feridas
(cegas
medonhas
sem saber
de si)
desprovido de pálpebras
eu enxergava ainda
num lacrimejar
incessante
relatando
infâmia
e piedade
tropeçando em rotos
e mutilados
em espelhos quebrados
ladeando o humano
indevassável
(eu morreria como fosse
diluviano na seca
consumido em estalos
inscrevendo
em meu epitáfio
partitura de alerta
caligrafada com o sangue lasso
dos meus tímpanos graves)
2 comentários:
Esse poema, se acabasse no título, já seria lindo. Mas não acabou - que bom!
"imagens desse quilate sangram em meus ouvidos"
Impressiona quando percebemos que ha imagens que gritam e sangram aos ouvidos das nossas almas.
Passar tudo isso para palavras, só pode ser um dom.Nem se tratará apenas de talento, sequer.
Divinalmente aqui são retratadas "imagens desse quilate" e com tanta poesia...
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