o mundo escoa à deriva
por meus dedos perdulários
eu os fecho num relance
e um caldo de ouro e sangue
espirra em meu rosto
caudaloso
me queima num assalto
cálido, gélido e ácido
esculpindo a derme
num horrendo traço
as fissuras carrego
nas sobrancelhas
e nos olhos que fulminam
o caleidoscópio cinzento
das criaturas fraturadas
irmanadas na saudade
dos tempos míticos
de uma paz conjecturada
por meus dedos
se esvai um mundo
cindido, rajado
de anseios frustrados
e amanheceres rosados
no expectante silêncio
de uma lágrima abafada
macerado, caminho
num rincão desprezado
onde uma brisa solerte
me lambe os lábios
modelando um riso gratuito
um arrepio imprevisto
um perfume cintilado
num rodopio
o mundo me atravessa
e arisco me ultrapassa
levo agora
lentes velhas
em minhas mãos
para sempre
calejadas
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