Garimpando palavras dentro de mim,
não encontro mais que sílabas esparsas,
letras aleatórias que me confundem
num rastro ralo e sem fim.
Defronto a tarefa de quem junta,
criando sentido a partir
de notas puras,
articulando incerto
a exatidão que a história
da língua oferece, como
dádiva que pulsa.
O dia escorre
e a lua redonda desponta
no leste,
mas o papel ainda queda
em pungente desordem.
Rodopio o dedo alçado
na conjuração de todas as potências,
emergindo a fauna selvagem
das palavras nuas e gritadas,
estabelecendo, numa domesticação
precária, o ávido concatenar
do tentativo pensamento.
(Não há subterfúgios
a catar pedrinhas
debaixo do cinza
de um meio-dia abafado
ou de um gelo que afiado
corta a assonância do sol)
Espinhosos e crus,
os sinais deslizam truncados
pela uterina brancura,
regalando as horas
com a latência de um descaso,
uma coceira, uma interrogação,
um espanto ou um estalo.
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