me conduzindo sem saber o que movia,
sonegando o inteirar-me
do seu desvelo de todos os espinhos
atravessados nas partes mais enrugadas
da minha pele adormecida.
Você me leu nas entrelinhas,
encontrando no espaço das palavras
um reflexo a focar suas feridas mesmas,
inequívocas e indiferentes às tentativas
de remendar, com cacos viscosos e vermelhos,
botelhas e taças em cristal quilatado,
toques transparentes em muros arrasados
e inchados da carga aterradora
de uma hipermetropia abominada,
sorrateiramente vulnerável
ao perfume dos macios roçares,
agonizando a cada passo
a atração pelo vinco das águas,
alvejadas de luar,
seguindo a velha embarcação.
Você não pôde ouvir o que eu te olhei,
alheio aos gritos que lancei ao seu vazio,
na imobilidade de uma canção ferida
e indolentemente abandonada.
Vou correr,
jogar-me do penhasco revolto
nas águas de um lago sem vento,
serei um sopro sem vela,
nadarei das águas escuras
ao infinito dos meus pulmões,
temerária confiarei em minhas pernas
e em meus braços desfolegados.
* Fotograma de Silver Linings Playbook, de David O. Russell (2012)
Nenhum comentário:
Postar um comentário