N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

terça-feira, 27 de março de 2012

vossa excelência é um canalha

como deve ser bom
dizer a verdade

abrir a boca
sem pensar
nos ouvidos
que podem estar escondidos

em canetas
nos cantos da sala
atrás dos óculos escuros
por dentro das saias

eu bem queria
olhar para as câmeras
embocar os microfones
contar tudo
o que ando fazendo

dar um bom-dia sincero
aos nobres salafrários
que sentam ao meu lado
nas raras vezes
em que vou ao trabalho

há noites em que sonho
que sou preso
com outros metralhas
jogado em cela especial
com direito a tribunal
a circo nacional
e a delação premiada

sinto até um alívio
e acordo com nostalgia

anteontem
me flagrei desatento
tremi e gelei
mas depois relaxei

eu dizia a verdade
mas era só em pensamento

2 comentários:

Anônimo disse...

Bom poema, Edu!
Versos são mesmo uma ótima opção para se fazer narrativa.
Abraço!

Luís Fernando

Anônimo disse...

Este poema é tremendamente vascular.
A adjectivação do título, um tanto inquisidora, parece-me.Abstraindo-me do título, digo que é um dos poemas de que gosto muito, do seu espaço.