como deve ser bom
dizer a verdade
abrir a boca
sem pensar
nos ouvidos
que podem estar escondidos
em canetas
nos cantos da sala
atrás dos óculos escuros
por dentro das saias
eu bem queria
olhar para as câmeras
embocar os microfones
contar tudo
o que ando fazendo
dar um bom-dia sincero
aos nobres salafrários
que sentam ao meu lado
nas raras vezes
em que vou ao trabalho
há noites em que sonho
que sou preso
com outros metralhas
jogado em cela especial
com direito a tribunal
a circo nacional
e a delação premiada
sinto até um alívio
e acordo com nostalgia
anteontem
me flagrei desatento
tremi e gelei
mas depois relaxei
eu dizia a verdade
mas era só em pensamento
2 comentários:
Bom poema, Edu!
Versos são mesmo uma ótima opção para se fazer narrativa.
Abraço!
Luís Fernando
Este poema é tremendamente vascular.
A adjectivação do título, um tanto inquisidora, parece-me.Abstraindo-me do título, digo que é um dos poemas de que gosto muito, do seu espaço.
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