“Mais vale um pássaro voando do que dois na mão”. Era essa a filosofia de Almeida Júnior, embora ele não a formulasse tão claramente. Sempre insatisfeito com o que tinha, abria mão do certo em favor do duvidoso e se, por graça ou por empenho, alcançava o que queria, perdia o que tinha antes e, em pouco tempo, o que obtivera em seu lugar.
Seus relacionamentos eram sempre frustrados, a partir do momento mesmo em que os iniciava. Saindo com a namorada, seus olhares não se dirigiam a ela, mas, cobiçoso, secava todas as outras que passavam à sua frente. Suas parceiras não deixavam de perceber isso e, em poucas semanas, terminavam tudo. Mas isso não lhe importava, pois a essa altura já não estava mais interessado. Com o trabalho era a mesma coisa. Não passava mais do que um mês e já estava dando telefonemas e lendo os classificados.
Até que adoeceu. No hospital, sem nenhuma visita, cansava-se das enfermeiras que o atendiam, querendo sempre a do leito vizinho. Fazia escândalo, reclamava, e almejava a doença do paciente a seu lado. Certo dia, chegou uma mulher em péssimo estado. Mal conseguia ficar acordada. Almeida fez o que seria seu derradeiro gesto. Levantou-se e, delicadamente, beijou-a, de língua.
Um comentário:
é difícil gostar do pássaro que está em nossas mãos, mesmo que sejam dois ou vinte. a variedade que está voando é sempre mais interessante. daí que um dos grandes desafios, principalmente em nossa cultura ocidental, é acalmar a inquietação de nossa alma, sedenta por o algo mais que não temos.
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