N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Eu te dei adeus
mas você não ouviu.

O seu adeus
já fora dado
sem dar conta.

O adeus que te dei
agora
é o meu adeus,
concreto e abrupto,
flutuando
nos meus olhos,
nítido como gume
na bruma do seu adeus
já diluído.
Quero que você fique bem.
Longe de mim.
Não bem longe de mim.
Bem.
Mas longe de mim.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Carrego em mim um mundo que não conheço. Tudo está em mim sem que eu possa concebê-lo. Tenho olhos que alcançam o horizonte, depois dele tenho os olhos dentro de mim. Não invejo a onisciência. Prefiro a cada passo o gosto de um novo momento. Tudo que está em mim e ainda não vivi. Quero olhar uma poça de sangue e ver a morte e enxergar beleza. Quero olhar uma poça de sangue e ver a vida e ferir acordes. Vejo você como uma outra vereda para o mesmo mundo que porto. O mesmo mundo em cada partícula de cada corpo. O mesmo mundo que ninguém concebe. Estar no mundo e não sê-lo, tê-lo em si e não ser senão um caminho. Mostre-me o seu chão, quero percorrê-lo com meus pés sujos de tempo. Entro na sua versão do mundo e vivo uma outra, além da que era sua e da que me pertencia. Carrego o mesmo mundo perpassado por mim e por você. O mesmo mundo nunca o mesmo para mim e para você.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

olho por entre as grades
   o dentro do viver

maresia ingrata
   osculando os sentidos
   o mover-se anônimo
tropeço dos respiros

mãos agarradas
    ao mesmo brinquedo
implodindo gentil
amputação
   do humano
          rosado
     horizonte
mudando lento
    de cor
trocando gaze
    na ronda dos cacos

arco-íris noturno

   uma criação