N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

domingo, 26 de abril de 2009

Ilusionismo benigno

Eras um caleidoscópio demovente
Impulsionada em rotos lençóis
Colchões calejados
Cabeceiras postas ao chão

Cabelos longos louros
Escondendo olhos castanhos
Na planilha do não-quero-mais

Rejeitando soberbas
Nua por cima de fontes
Adegas naturais
De insensatez imperiosa
Jorrando cores
Dispostas em desleixos

Representavas damas
Leques, decotes de saias
Prostitutas recatadas
Inocência, malícia

Vestidos de gala

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A Beleza e a Obscuridade

Foi em 1997 ou 1998, não sei bem ao certo. Apresentaram-me um disco de uma banda da Suécia que transitava entre o hardcore e o metal. Purusam era o nome. A princípio, gostei muito daquele cd pesado e sombrio, chamado “The Way of the Dying Race” (O Caminho da Raça Moribunda), lançado em 1996.

Mas foi só uns quatro ou cinco anos mais tarde, em 2002, que essa banda tornou-se a minha preferida (hoje, outros suecos, os do Opeth, compartilham essa posição na minha lista hierárquica musical). Nesse ano, conheci o segundo (e último) disco do Purusam, “Daybreak Chronicles” (Crônicas do Amanhecer), lançado em 1997, que, hoje, não sei se ponho ou não à frente do primeiro, mas que na época foi decisivo no sentido de eu colocar essa banda num lugar tão elevado.

Formada em 1994, Purusam passou por diversas alterações de elenco até sua extinção, em 1998. Possui um instrumental bastante elaborado, fugindo dos clichês do gênero, acompanhado por um vocal masculino gritado e um feminino limpo. Suas músicas se alternam entre a agressividade e a melodia, assim como as letras caminham entre a fúria e a poesia.

Purusam é uma banda extremamente pouco conhecida. Isso me surpreende e me incomoda, devido à sua qualidade superior. É um mistério para mim, uma dessas coisas inexplicáveis deste estranho planeta Terra. Má distribuição? Pouco (ou nenhum) marketing? Para se ter uma ideia, a partir de um elemento que, embora não seja 100% revelador, não deixa de ter sua significação, Purusam tem hoje apenas 949 ouvintes no Last.fm (confira aqui a página da banda - a biografia foi escrita por mim), contra 363 mil do Opeth. Outros músicos de alta qualidade, relativamente pouco conhecidos, como The Gathering e Jeff Buckley, têm, respectivamente, 192 mil e 742 mil ouvintes no mesmo site. O Radiohead está na casa dos 2 milhões e é um dos mais ouvidos por lá.

Vou transcrever, abaixo, uma das letras dessa sensacional banda sueca, cujo nome significa, em sânscrito, o espírito universal (sem entrar nas sutilezas da filosofia védica). Deixo a música para quem quiser ouvir uma amostra. Ela se chama “The Realm of Time” (O Reino do Tempo), e é a terceira faixa do “Daybreak”.

Aproveitem.
“The Realm Of Time”

Sometimes life is ticking away
Sometimes there is no reason left to stay
And sometimes it's beauty like never before

We will never appreciate it
No one that loves or hates it
No one that cares at all

Time flows like a river
And history repeats
A life is an eternity

Sometimes it's a wonderful dream
Sometimes life is as beautiful as mean
Just like before


“O Reino do Tempo”

Às vezes a vida está indo embora
Às vezes não há razão mais para ficar
E às vezes é a beleza como nunca antes

Nós nunca iremos apreciar
Ninguém que ama ou odeia
Ninguém que se importa

O tempo flui como um rio
E a história se repete
Uma vida é uma eternidade

Às vezes é um sonho maravilhoso
Às vezes a vida é tão bela quanto mesquinha
Do mesmo jeito que antes