N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

terça-feira, 31 de março de 2015

A depuração da brisa

Ela sopra, oculta e nua,
ideias sábias e gentis,
a revolverem-se no concerto
dos sons, em estado bruto,
entornando-se em ouvidos
alertas a qualquer distorção.

Eles acolhem suas asas,
maviosa, submetendo-a
ao engenho da compreensão,
tomando conta do corpo
a absorver a voz sussurrada,
tão forte por ser tão sutil.

domingo, 22 de março de 2015

A tocha

Percebo, observando os meandros
do meu discurso, as lacunas
de sentido em que a ofensa,
involuntária e ardilosa, se infiltra.

Empenho-me na busca das palavras
que melhor representem as considerações
que cultivo, imergindo-as no tato
que se desloca de qualquer ferida.

Falar é um salto no abismo
dos entendimentos; quero ser
uma tocha que ilumina a interpretação
e queima a farpa mais escondida.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Absorção

Mergulho na essência dos ideais,
observando, com olhos de aprendiz,
sua fauna desconhecida e poderosa.

O fôlego, nesta água, é escasso;
anoto, mentalmente, a figura nobre
das cores em nitidez ancestral.

Voltando à superfície pela areia,
recebo nos poros o sol gerador,
maturando o broto das ações futuras.

sexta-feira, 13 de março de 2015

A saúde e a solidariedade

A coletividade,
caminhando
como uma criança,
de mãos dadas
com cada uma de suas células,
carrega em sua marcha
a síntese dos sentimentos,
propósitos e realizações
dos seres que a compõem.

A saúde
é a harmonia do corpo,
cada órgão pulsando
em consonância,
instaurando
um organismo genuíno,
beleza que brota
da feliz união
de todos os raios
da fonte luminosa.

O pulso de saúde,
do indivíduo e do coletivo,
é a solidariedade,
paz de sabedoria
atuando sem ódio,
o mais letal
de todos os venenos –
cada gentileza um antídoto,
cada emanação de amor
uma prevenção.

domingo, 8 de março de 2015

O sustento do olhar

Ela aprendeu,
cultivando a confiança
no potencial
de inteireza da sua alma,
a sustentar o olhar,
dentro dos tornados
de insensatas emoções,
descobrindo o segredo
de preservar-se da derrubada.

Seus olhos abertos
e erguidos,
francos e macios,
emanando força de paz
e virtude de comunhão,
são o seu eixo,
sólido no cerne
e flexível nas extremidades,
aprofundando a alma
em alicerce convicto.