N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

domingo, 30 de dezembro de 2012

Por um 2013 com muitos xeques



Nós morremos a cada momento.
A cada hora.
A cada dia.

Nós nascemos a cada dia.
A cada hora.
A cada momento.




Notemos a Morte ao nosso lado, a todo instante.



Sigamos seu conselho, viva,
enquanto não nos conduz ao Desconhecido.



Deleitemo-nos no tempo incerto que respira à nossa frente. 

O xeque-mate é Meu e te aguarda sorrateiro, Ela avisa.



Mas os xeques estão em nossas mãos e em nossos espíritos.



Multipliquemo-los até o fim, embora o Rei não se abata.

Dar xeques não chega a ser enganá-La.



A cada vez que A ameaçamos, ainda assim, estamos ganhando a partida.




Ser pleno é jogar inteiro no fluir dos movimentos.

Um rei que luta até o fim, abraçando a falta de qualquer alternativa, a incorpora, plenifica-se no espaço vazio.



Dancemos, de mãos dadas, jorrando o canto belo e o sublime gorjeio.


* Fotogramas de O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman (1957)

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

nutrição

quero
incorporar
a simplicidade
extraindo a verdade
(uma seiva)
que às escondidas
sulca e condiciona
a superfície telúrica
do meu entendimento

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Sentidos planam rugosos, fecundando a terra com resíduos

Acredite
no vento leve
do compromisso
com a suave revoada
de palavras doces
e frases idílias.

Perfure a casca
do sonoro envoltório
que se desmancha
em notas sugestivas,
saboreando os recheios
do acorde a ser mordido.

Escave atento
incandescentes pedras,
atingindo lençóis
como depósito
de crocantes adubos,
renascidos
de inférteis tentativas,
escondendo,
nos pulmões da terra,
com cândidas pisadas,
poesias incubadas
e odes embriãs.

Brotando ao longe,
de amaciadas superfícies,
exclamações incertas,
insuspeitadas vias,
decorrendo rondas sucessivas.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Nos deram espelhos...

Calcular
uma obscuridade alimentada
em imagens e simulações,
é como interpretar,
subjetivamente,
uma equação exata.

Hipotética conta
que nem os deuses antecipam,
confusão de vontades,
liberdades, estímulos
e feridas.

Especialmente,
feridas.

A incompreensão
e a indiferença grassam,
enquanto cruzamos braços,
entortamos línguas
em despropérios,
absolvemos em nossas sombras,
tênues, talvez,
frente à insanidade execrada,
tudo o que nos cega
no reflexo de nossas vísceras
se dizendo inocentes,
nossa ilusão de impecáveis
sentidos.

Chorar,
consternar-se pelas crianças,
pela dor absurda,
pela pontada de uma espécie
fracassando.

Chorar,
olhando dentro,
que a aguda tortura
pode estar perto,
sorrateira e ardilosa,
mais do que perto,
não havendo indignação
tão poderosa,
inerte e solitária,
a resolver em higiene
um mundo manchado,
um corpo
de relações leprosas,
amontoado de fios rasgados
de desgovernadas agulhas,
talhas esfoladas
numa nudez sem direção.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Gelo opaco não dá conta do real

Saio às ruas
e tudo o que vejo
são pontas.

Ouço barbaridades,
presencio atrocidades,
pontas.

O que
se esconde
sob águas tão geladas,
queimação inversa
de corpos mornos,
chagas abertas
que se esquecem de si
mas não arrefecem.

É inútil
amaldiçoar o gelo afiado,
afeiçoar-se à superfície,
nadando em julgamentos rasos
de suportáveis temperaturas
aquém das regiões
abissais.

Degelar
o mistério, evaporando
precipitações valorativas,
descortina uma compreensão
que atravessa os prejuízos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Cinologia #2

Elogie
as boas atitudes.

Não custa nada,
e cria felicidade ao redor.

A cumplicidade
é construída no bem-tratar.