N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Chave de ouro


Estêvão, meu primeiro "sobrinho-neto", filho do meu "sobrinho-irmão" e da querida Carol, me tocando com seu olhar profundo e cheio de pureza...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

The Liebster Award



Olá!

O o blog Leitores Forever (leitoresforever.blogspot.com.br) nomeou o A Rocha, A Água, junto com outros 11 blogs, para participarem
dessa TAG. Seu objetivo é ajudar blogs que ainda estão no começo, principalmente os com menos de 200 seguidores.

As regras são:

Escrever 11 fatos sobre você;
Responder as perguntas de quem te indicou;
Indicar de 11 a 20 blogs com menos de 200 seguidores;
Fazer 11 perguntas para quem indicar;
Colocar uma imagem que mostre o selo Liebster;
Linkar quem te indicou.

11 fatos sobre mim

1. Considero tratar bem as pessoas (tratá-las, no mínimo, com respeito) essencial.

2. Sei que, como somos humanos, cometemos erros no trato com os outros. Mas é essencial pedir desculpas depois, e se dedicar a não repetir o erro.

3. Tento lembrar-me sempre de que não sou essencialmente melhor do que ninguém, e nem minhas opiniões são intrinsecamente superiores às dos outros.

4. Acho importante deixarmos uma marca positiva no mundo, dedicando-nos com determinação ao ofício que amamos, lutando por nossos ideais, respeitando a diferença.

5. Seria muito duro para mim viver sem arte, especialmente música, cinema e literatura.

6. Escrever, para mim, é uma questão de sobrevivência, e não me refiro simplesmente a finanças.

7. Acho que devemos sempre procurar evoluir, como profissionais, como pessoas e como membros da coletividade.

8. Assino embaixo da frase "Guardar rancor é como beber veneno e esperar que o outro morra". O perdão é libertador para todos os envolvidos, e não é sinônimo de permissividade.

9. Creio que nossos pensamentos, tanto quanto nossas palavras e nossas ações, formam quem somos e, em grande parte, o que nos acontece.

10. Acredito em karma. Tudo o que fazemos, de bom ou de mau, volta para nós.

11. Para mim, tolerância e respeito são fundamentais, seja em relação a orientação religiosa (incluindo ateus e agnósticos, de religiosos para com eles e deles para com os religiosos), cor da pele, nacionalidade, classe social, orientação sexual, gênero e qualquer outro fator que não envolva algum tipo de violência.


Blogs que indico

1. Fragellytée
    fragellytee.blogspot.com.br

2. World Wide Suicide
    wwsuicide.blogspot.com.br

3. Cálida Poesia
    calidapoesia.blogspot.com.br

4. Let it be
    inconsequentereflexao.blogspot.com.br

5. Imaginação orgânica
    cronicamenteorganica.blogspot.com.br

6. Lado céu: o dito nunca te assumirá como uma mera coincidência
    larissapujol.blogspot.com.br

7. Recordar, Repetir e Elaborar (este não tem contagem de seguidores)
    recordarrepetirelaborar.wordpress.com

8. De solas e asas
    desolaseasas.blogspot.com.br

9. Danielle Means
    daniellemeans.wordpress.com

10. a voz da lua (este tem mais de 200, mas...)
    avozdalua.blogspot.com.br

11. História de cordel
    www.historiadecordel.com.br

12. Artigo indefinido, feminino, singular
    indefinida.blogspot.com.br

13. Astro-Síntese - Projeto Luminar (este não tem contagem de seguidores)
    projetoluminar.wordpress.com


Perguntas de quem me indicou

1. Qual livro fez com que você começasse a gostar de ler?

Não sei bem ao certo. Provavelmente, Mar morto, do Jorge Amado. Na infância, lia Turma da Mônica toda semana.

2.Qual adaptação literária você mais gostou? E qual vocês menos gostou?

A que mais gostei foi a de Abril Despedaçado. É um dos três filmes que mais amo. A que menos gostei... não estou sabendo responder... talvez Nina, que é uma versão livre de Crime e Castigo.

3. Qual sua banda favorita?

Purusam. É uma banda sueca que mistura hardcore e metal progressivo. Existiu entre 1994 e 1998.

4. Qual sua série de TV favorita?

Friends. Mas ultimamente a que mais assisto é The Big Bang Theory. Adoro.

5. Qual seu maior talento?

Acho difícil dizer. Alguns dizem que sou um bom ouvinte.

6. Você se arrepende de ter lido algum livro? Qual?

Não me arrependo. Mesmo os de que não gostei serviram como experiência.

7. Qual seu livro favorito? Por quê?

A educação sentimental, do Flaubert. É um livro que explora todos os desejos, frustrações, qualidades e defeitos de uma geração (no caso, a dos jovens da década de 1840). Em sua riqueza de personagens, cada um com sua personalidade marcante, traça um painel admirável da condição humana. Mostra a dificuldade de se manter fiel aos seus ideais, e como essa fidelidade pode levar a sofrimentos extremos, embora heróicos. Apresenta também uma reflexão sobre o que é o amor verdadeiro, que é diverso do amor fantasiado e idealizado, e sobre o conflito que muitas vezes se estabelece entre diferentes tipos e alvos de amor. E indica a maneira como a ingenuidade seja talvez o maior tesouro da vida, apesar de não responder como mantê-la, através das experiências duras da existência, ao longo dos anos que passam.

8. Você teria coragem de homenagear seu livro favorito fazendo uma tatuagem? Se sim, como ela seria?

Creio que não. Pensei em outro dos meus três filmes preferidos, o Morangos Silvestres. Daria para fazer a tatuagem de um morango... mas nem isso eu faria, rs. Porém, se contarem livros de astrologia, eu até já fiz, pois tenho vários símbolos do meu mapa tatuados nos braços.

9. Qual sua comida favorita?

Acho que são os cookies de gotas de chocolate que minha irmã faz. Quanto a comidas salgadas, varia. As mais frequentes são o macarrão com tofu e legumes do restaurante Macau (aqui de BH), a pizza vegetariana da Burnet's e, quando estou mesmo com vontade, o bom e velho arroz com feijão, legumes, folhas, macarrão e farofa.

10. Do que você tem medo?

Prefiro não falar sobre meus medos em público... Mas, sempre que tenho qualquer medo, pronucio mentalmente palavras como coragem, confiança e força, tento imbuír-me da energia delas e sigo em frente.

11. Você coleciona marcadores de livros?

Não, mas tenho um bocado.


Minhas perguntas:

(Vou repetir algumas das que me foram feitas)

1. Que livro fez com que você se apaixonasse pela leitura?

2. Qual é o seu livro preferido? Por quê?

3. Qual é adaptação de livro para cinema de que você mais gosta? E a de que menos gosta?

4. Você acha que o livro é sempre melhor do que a adaptação cinematográfica?

5. Você se arrepende de ter lido algum livro? Qual? E por quê?

6. Você gosta mais de que gênero de livros?

7. Há alguma outra forma de arte de que você gosta mais do que a literatura?

8. Como é o processo da sua escrita?

9. Você sabe algum poema ou trecho de livro de cor? Cite um pedaço.

10. Você já leu algum livro mais de uma vez? Qual foi, ou quais foram? E quantas vezes leu?

11. Se tivesse que indicar 5 livros para quem está começando a ler, quais seriam?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

sábado, 29 de novembro de 2014










Uma breve luz,
esparramando-se em sua fronte,
captou, com leveza de sussurro,
o gentil embalo,
num colo seguro,
da incipiente vida
hesitando, de retorno
ao seu verdadeiro mundo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O encantamento da segurança

Na primeira vez em que o senti em mim,
soube que poderia ser segura junto a ele.

E tive medo.

Tive medo da segurança 
jamais antes experimentada,
sequer nomeada,
tive medo
porque ela parecia tão próxima,
à revelia de qualquer precaução.

Tive medo porque me permitia
fazer-me indefesa junto a ele,
tive medo porque um movimento
mais brusco seu me partiria.

Meu coração palpitava sem ritmo,
cindida que estava, entre a segurança
com que sua presença me envolvia
e o rastro do passado que me impregnava.

Tantos arranhões e tantas lágrimas
para emancipar-me de todas as
correspondências,
e novamente o abismo defrontado.

O abismo do seu abraço,
do largar-se em seus sentimentos,
tão sem certezas,
tão próprio do reino das apostas,
intangível e involuntariamente esquivo
em sua sedução espontânea
e livre de qualquer alarde.

E, no entanto,
condensando em seu seio
a expectativa da incondicionalidade
e do irredutível desejo de abrigar
todas as dores,
gotejando na hora exata
o bálsamo do afeto,
ele desafiava minhas vitórias.

E é por elas
que me faço fiel à audácia
da minha regeneração.

Derramo em seu peito a força
das minhas vulnerabilidades,
ponho em xeque
a potência dos seus alicerces,
abro-me à chance da queda
ou da segurança
com que desde o primeiro instante
ele me encantou.

sábado, 22 de novembro de 2014

O alvo e suas brechas

Eu me dedico à arte da flecha e do arco, adestrando-me, com primor de aprendiz, no manuseio e na mira, e, sobretudo, no tempo.

O tempo veloz ou lento do alvo, a natureza da flecha, sua cor e seu brilho, força interna ou sutileza de toque, estrondoso ou despercebido.

Não se trata de sangrar a caça, a não ser o sangue assombroso do combustível da vida; no coração atingido, impulso renovado fluindo.

Respeitando a solidez e o ritmo de sua quentura, o fogo se aproxima a cada brecha, a estrada a cada vez segura e protegida.

Pois o arco é ciente de suas lâminas, enverga o vento e dilui a tempestade, abre as cores entre nuvens, liberta todos os matizes.

E o alvo se deita, numa plácida entrega, coberto por lua em céu veludoso, mãos ávidas descansando no silêncio do preparo.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O verdadeiro amor só acontece entre duas felicidades que se tocam.
Eu não toco o que em você é infeliz. Eu toco a felicidade que existe, mesmo se escondida aquém ou além da consciência, vibrando em seu interior. E então, num movimento sutil e delicado, resgato-a como quem recupera e revigora uma Beleza, e a ofereço a você como um presente singelo.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Nudez rediviva

Eu te desafio a mergulhar, burlando o contorno inteiriço das suas reservas, manuseando a premeditação como braçadas arriscadas, no proveito da lucidez cravando o cerne do desconhecido; finalmente divisando a riqueza indomável de todas as cores, formas submersas dançando no acalanto das águas, tremores imprevistos, jamais nomeados pela insuspeitada candura, emergindo como novidade assombrosa no que se pretendia a quintessência da erudição; só lhe poderá restar a humildade dos recém-nascidos versando as primeiras letras, guardando como única segurança o leme do olhar, o domínio frágil das reações e a hospitalidade ao dúbio encantamento do porvir.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A Sereia - Meu primeiro livro publicado

Olá, leitores(as),

Vou usar este espaço para divulgar o lançamento do meu primeiro livro, de prosas curtas, chamado "A Sereia".

Ele foi publicado, por enquanto, exclusivamente, no formato eletrônico do Kindle, leitor de livros eletrônicos da Amazon.

Pode ser adquirido, portanto, somente no site da Amazon:

amazon.com.br

Para quem não tem o Kindle "tablet", é possível baixar aplicativos gratuitos para PC, Mac, tablets e smartphones, também no site da Amazon.







Os links exatos para a página do livro e para a página dos aplicativos são os seguintes:

O livro

Os aplicativos

Agradeço desde já aos futuros leitores. Sintam-se à vontade para comentar!

Um grande abraço a todos.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Evoluir, não somente através do voto

Não devemos subestimar a contribuição que cada um de nós pode dar à sociedade, indo muito além do voto nos governantes.

Todos temos margem para evoluir como seres humanos, tornarmo-nos pessoas melhores, com cada vez mais frequentes e profundas energias, palavras e atos de amor, justiça, esperança, sabedoria e tantas outras virtudes, em nossa vida do dia a dia.

A indignação é importante, mas não deve ocupar totalmente o lugar desses outros sentimentos. Se melhorarmos a nós mesmos, transmitiremos naturalmente essa melhora às pessoas à nossa volta, aos ambientes que frequentamos, e, consequentemente, à sociedade em que vivemos.

Acredito que devemos sempre tentar fazer a serenidade e a humildade acompanhar as críticas, o máximo que pudermos, pois as vibrações de paz e amor que gerarmos serão importantes, inclusive, para termos a noção mais inteligente de como nos conduzir como cidadãos que contribuam para a melhora do nosso país.

Tendo maior ou menor sucesso nesse objetivo, o importante é não desistir de fazer o bem e de acreditar na possibilidade de evoluirmos como indivíduos e como coletividade.

domingo, 28 de setembro de 2014

Mulher sentada num banco de praça,
emoldurada por fontes, olhar no vazio


O fotograma vivo no espelho dos meus olhos,
abandonado no vento, obliquamente me fere.

Sussurra-me promessas, aventa um tempo sustado –
não me engana já, nasce e perece de uma vez
seduzindo por puro deleite, espirituoso e incompleto,
rastro de sutilezas e impressões desmanchando.

Meus pés se moldariam em correntes –
não alcançarei em momento ou posto
esta mulher que chamo de minha
numa solução inadequada e manca.

Não possuo o que me foge no instante,
não possuo o perene escape, não possuo o jamais.

Possuir é verbo inconjugável.

Persigo ainda o seu olhar que nada vê e tudo cria,
perco agora e perco sempre sem ter tido embora.

Escarvo o que não sei se virá, inquieto poema em pele –
não capturo a silhueta do que imprecisamente vejo,
não concluo, nada me obedece no concerto de formas.

Amparo-me no incerto que é solitária certeza,
cedo e me entrego em favor da imersão –
celebro o que não se curva ao meu pincel.

Você se esvai em melodia agora, você se vira e me olha,
na candura do sorriso desenha um lembrete do seu desdém.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Citação: Alice A. Bailey (1880-1949)

"Eu ressalto aqui que o verdadeiro amor ao grupo nunca se manifesta como ódio ao indivíduo. Ele pode resultar no impedimento das suas atividades ou empreendimentos, quando isso é considerado desejável em vista do interesse do todo, e se o que ele está fazendo é visto como um dano ao bem coletivo. Mas o impedimento não será destrutivo. Será educativo e terá a evolução como resultado."

O destino das nações
(1949)

Alice A. Bailey
(1880-1949)

- Tradução minha

Considero muito benéfico manter essas ideias em mente, especialmente nestes tempos pré-eleitorais, em que pode haver uma tendência mais a odiar o adversário do que a amar o coletivo.

domingo, 18 de maio de 2014

Perséfone, rainha do Hades

Bela Perséfone, a mais bela das belas, flutuando no ensolarado jardim de narcisos, seu perfume embriaga meus sentidos; não posso senão possuí-lá, descê-la em seu frescor à minha obscura morada; será ali o novo lar dos seus encantos.


Linda e solar, venho arrebatar-te, Perséfone, como você me arrebatou; vamos em minha carruagem de fogo negro, pois já te esperam, rainha, em minha morada; não tardemos, que o pranto ofuscante da terra se aproxima.

 
Sim, bela Perséfone, sua mãe te procura, e não tardará a vê-la; aconchegue-se, por agora, sob o meu rubro firmamento, e receba este fruto, pois aqui, também, se conhece a fartura; morda a sua macia carne, saboreie o tenro agridoce de sua polpa lauta e suculenta.

Faço como me pedes, pois a doçura dos teus olhos negros acaricia-me com a leveza de um estremecimento; surpreendeste-me, num habilidoso movimento, deixando-me, temporariamente, sem escolha; agora, voluntariamente, regozijo-me neste sublime alimento, abrigada no sombreado escarlate de teu afetuoso acolhimento.

 
Não posso voltar, mãe amada, apoderei-me da paixão e encontrei meu novo lar, tornando-me rainha de um obscuro solo; acolherei com minhas suaves asas os viajantes do falecimento, trépidos ou bravos, encaminhando as almas ao destino de seus méritos; a delicadeza da primavera não é já para mim, tenho missão mais sóbria; as lágrimas e anseios dos perdidos serão as sementes de minha lavoura agora.

Querida mãe, o pranto da distância entre nós tornou-se um transbordante poço de anseios; as águas de meu desejo inundaram nossos domínios, pondo em risco a ordem e os passos de suas sombras peregrinas; só me restou, malgrado as súplicas de meu marido amado, estabelecer com ele um doloroso pacto; aqui serei rainha, nem sempre presente, todavia; uma vez ao ano irromperei, como uma fonte cristalina, portando a luz do amor e da saudade, para derramar contigo, sobre a terra, em claras estações, o suave calor de nosso afeto acumulado; em alegria, com todos os seres que respiram, compartilharemos nossa doçura, premiando o labor dos homens bravos e o desvelo das mulheres fecundas.

domingo, 11 de maio de 2014

Clara dos anjos

Clara de alma, mãe minha, mergulhada sempre nas águas da compaixão, abençoada e ungida nos gestos e movimentos do cuidado e do afeto, na pureza alegre dos olhos gentis, plena de amor e aspirações de fraternidade divina, muitas vezes num sacrifício que, por sua nobreza, ao invés de oprimir, acrescenta ao seu manancial de paz derramada; às vezes com arranhões na pele frágil de tão sensível, que eu possa ser uma fonte de bálsamo em momentos delicados, e que os anjos e os santos que você tanto ama te sejam companheiros inseparáveis, iluminando, guiando e fortalecendo, para que se realize constantemente a sua doação, a sua riqueza fluindo, a sua felicidade conquistada.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Audácia

Desgarrado por um momento de suas velhas ambições, ele se abre ao vagaroso florescer de um outro norte; como um propulsor, a afetuosidade instigando o brio latente de uma gema brotando em pássaro na hora exata, primeiro canto se derramando macio sobre a fauna ardente de tantas chagas; ele assume diante de si a tarefa inglória da singularidade almejando contiguidade sem arranhões, desenganado mas renitente, vulnerável a desprezos sustenta a estranha marca de seu rosto na enorme antessala; o solo firme da resolução transmuda seus olhos, firmados em cada pormenor com delicadeza de unguento, a discernir a hora de mirar ou descansar a alma nua de um irmanado qualquer; ele planta as sementes de uma árvore frondosa e ancestral oferecendo sombra aos que se aproximam, pequeno recesso em que galhos e raízes circulam a seiva até os limites de cada espontânea envoltura; é um panorama de cores a sonoridade plástica de seus fugidios pensamentos, penetrando, em ondas de infância cultivada em oitavas, os poros de cinza a dormitar na assombrada face dos que anelam.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

O plantio do afeto

Ela quer disseminar, através da solidez afetuosa de suas fortes palavras, bênçãos de comunidade sobre o coletivo despercebido de seus raios; faz-se amena e infiltra suave, adaptando o brilho ofuscante de seu solo extenso e prenhe de sementes de camufladas utopias ao alcance das mãos; aos que se aproximam, a surpresa renovadora de sonhos compartilhados e tratados em suas feridas, a ação sutil e expansiva de bálsamos que incendeiam num momento para aguar e refrescar em viço na volta seguinte; o abraço construído na estrutura de emoções resguardadas em sua abertura, reluzindo como espelho das aspirações de todos, abarcando na melodia do encontro a insistente fé em dias melhores, instalados na potência inscrita nos recantos de toda seiva; generosidade fluindo abundante a regar o âmago dos seres.

sábado, 26 de abril de 2014

Um poço para sua beleza

Ela quer desvelar sua alma à realidade etérea, sutil, no limite de qualquer substância; plantar, umedecendo a terra com sua fatia mais densa (água, de tão transparente, invisível), no fundo da distância exata, falando à semente como se aborda um infante, ondulando cantigas de embalar e seduzir, com a paciência deleitosa do lavrador temperado nos ciclos de noite e dia, impregnando cada palavra com a discreta força de um recomeço tingido de luta, conduzindo-se à dura beleza conquistada em meio a vacilos (ah, o tempo presto cobra o justo pedágio); ela quer se encontrar e verter o seu mais íntimo através do duto mais claro, que, rebelde a suas esperas, se faz opaco e rugoso; o poço em que se dobra a sua torrente, numa cachoeira a reluzir nuas verdades, não lhe parece acolher com a segurança de um chão que sustente e floresça, algas estranhas moldando-se em pedras rasas, ameaçando o equilíbrio de mergulhos parecendo interditos como escorregadias intempéries; as águas valentes caem, no entanto, o que era escasso transmudando em profundezas, plenitude de vida submersa que ela procurava quase às cegas, insciente da maravilha inscrita em suas próprias premonições; manancial abundante e vivo, entre curvas de troncos e raízes retomando a forma potente de um regato, renovado perenemente nas fontes da bela e sublime imagem; ela encontra o seu traço, descendo a colina sob as sombras de árvores altas e frondosas, ela escolhe enfim o seu poço, num mergulho se despe em delicadeza que a envolve na inesperada entrega.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Fundação

Não quero dizer
tanto
quanto sugerir,

deixar

que o poema
chame,

(chama)

no fundo
intocado,

faísca no abismo,
sussurro ancestral.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Eu te dei adeus
mas você não ouviu.

O seu adeus
já fora dado
sem dar conta.

O adeus que te dei
agora
é o meu adeus,
concreto e abrupto,
flutuando
nos meus olhos,
nítido como gume
na bruma do seu adeus
já diluído.
Quero que você fique bem.
Longe de mim.
Não bem longe de mim.
Bem.
Mas longe de mim.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Carrego em mim um mundo que não conheço. Tudo está em mim sem que eu possa concebê-lo. Tenho olhos que alcançam o horizonte, depois dele tenho os olhos dentro de mim. Não invejo a onisciência. Prefiro a cada passo o gosto de um novo momento. Tudo que está em mim e ainda não vivi. Quero olhar uma poça de sangue e ver a morte e enxergar beleza. Quero olhar uma poça de sangue e ver a vida e ferir acordes. Vejo você como uma outra vereda para o mesmo mundo que porto. O mesmo mundo em cada partícula de cada corpo. O mesmo mundo que ninguém concebe. Estar no mundo e não sê-lo, tê-lo em si e não ser senão um caminho. Mostre-me o seu chão, quero percorrê-lo com meus pés sujos de tempo. Entro na sua versão do mundo e vivo uma outra, além da que era sua e da que me pertencia. Carrego o mesmo mundo perpassado por mim e por você. O mesmo mundo nunca o mesmo para mim e para você.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

olho por entre as grades
   o dentro do viver

maresia ingrata
   osculando os sentidos
   o mover-se anônimo
tropeço dos respiros

mãos agarradas
    ao mesmo brinquedo
implodindo gentil
amputação
   do humano
          rosado
     horizonte
mudando lento
    de cor
trocando gaze
    na ronda dos cacos

arco-íris noturno

   uma criação

sábado, 18 de janeiro de 2014

Entro na cidade e escuto os passos soterrados dos que lidam. Faço-me sonho e luz sempre nova e ancestral. Os meus pés, deslizando, balançam o chão embebendo o asfalto em surdina, cal se transformando macio dentro da noite. O solo suaviza, descansa os pedestres que dormem areia, amizade e jornada. Um aroma de esperança se difunde, as mentes se fibram, almas exalam paz arrostando sombras. Sem favores. A consciência cai como chuva branda lentamente encharcando todos, que se olham como iguais: diferenças são de estilo e gosto, o valor é um só. Cores misturadas arejam os palanques, carne velha disponível aos abutres. Uma brisa saudável de sabedoria arrepia os poros de todos, untando a pele como loção de vida. Não há lastro para contenda quando chegamos ao pódio de um só degrau.