Mulher sentada num banco de praça,
emoldurada por fontes, olhar no vazio
O fotograma vivo no espelho dos meus olhos,
abandonado no vento, obliquamente me fere.
Sussurra-me promessas, aventa um tempo sustado –
não me engana já, nasce e perece de uma vez
seduzindo por puro deleite, espirituoso e incompleto,
rastro de sutilezas e impressões desmanchando.
Meus pés se moldariam em correntes –
não alcançarei em momento ou posto
esta mulher que chamo de minha
numa solução inadequada e manca.
Não possuo o que me foge no instante,
não possuo o perene escape, não possuo o jamais.
Possuir é verbo inconjugável.
Persigo ainda o seu olhar que nada vê e tudo cria,
perco agora e perco sempre sem ter tido embora.
Escarvo o que não sei se virá, inquieto poema em pele –
não capturo a silhueta do que imprecisamente vejo,
não concluo, nada me obedece no concerto de formas.
Amparo-me no incerto que é solitária certeza,
cedo e me entrego em favor da imersão –
celebro o que não se curva ao meu pincel.
Você se esvai em melodia agora, você se vira e me olha,
na candura do sorriso desenha um lembrete do seu desdém.
Um comentário:
Muito bonito...
Já parei uma quantidade de vezes a olhá-lo.
A sensação de perda esvazia-nos o ser, e preenche a alma dos que criam, de inspiração..
Não fosse o tal desdém num sorriso de candura, e amparar-me-ia em quase todas as linhas.
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