I – A Brisa
Foi como um leve sopro
O beijo da brisa levou
Longe, além do mais além
Veloz como os dedos de um amante
Carregando tempo, espaço,
Oxigênio, impurezas transmutando
No lépido enlace do ar
Paisagens despontando, amplas,
Revelando distâncias ao alcance da mão
O vento das possibilidades
Arrepios no toque, fios eriçados
Resvalando suaves, enleios
Plenos de súbitos arroubos
Espasmos de gozo arrebatando os sentidos
II – O Vulcão
Desperto, acordado de dormência,
Vermelho, viscoso e quente
Demandando liberdade, em fúria
O vulcão, antes só e absorto,
Reúne as forças primitivas,
Primordiais, no ímpeto do nascimento
Do que foi e sempre será
Nada que possui restará intacto
Sob a caudalosa lava, esfumaçada,
Fim de certezas, anseios ascendendo
No ardiloso painel de durezas
O céu, nebuloso e prenhe
Sentidos vitais pulsando fortes
Arde o elã, arde o ar, arde a vida
III – A Floresta
Remanescentes numa selva obscura
Sombras frescas, raios de luz
Penetrando a densidade das folhas
Feras circundando troncos
Lascas de madeira protegendo a seiva
Mortes, matanças, subtrações de cadeia alimentar
Venenos, garras, presas, brenha inóspita
Ela entra, desconsiderando lógicas,
Sacerdotisa erótica das forças naturais,
Emblema selvagem de feminilidade esguia
Armada com o que o peito carrega
Luz dourada iluminando o breu
Castanhas, frutos, flores silvestres
Adornando soberana, pés descalços sob a chuva
IV – O Penedo
Ela ascende, numa escalada intrépida
O frio do vento nos cabelos soltos
Coração pulsando, vigorosas passadas
Transpondo esforços, pernas cansadas
Resistindo às pedras lisas
Mochilas abertas, cabos, botas pontiagudas
O abismo sob a calma fugidia
Da peregrinação ao topo, divisando
A imensidão almejada, num suspiro
Erguendo os braços, recolhendo o louro
Sem verde, sem perfume, sem coroa
Louro vermelho, percorrendo as veias,
Vida aspirada renovando o impulso
Grito de vitória ecoando pelo vale
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