N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Ideia para viagem de carro por ruas de cidade:
cada corpo é uma história.
As faces me contam sem dizer.
Fisionomias penetrando como flashes no frio.
Saltar num banco de cimento,
a contemplar um ponto de ônibus.
Anotar no caderno de passeio,
com fibra, as dirigidas alucinações.
Sempre aquém do perene.
Cada sorriso se transformando em outra coisa,
cada careta também.
Não há pausa no itinerário dos rostos.
Volto ao carro e acendo o farol,
aciono as borrachas do para-brisa.
Encolhem-se corpos inermes,
recolhidos sem esperança na umidade inchada.
Rodo e o motor bebe o álcool
que abandonei.
Em pouco de novo o sol.
Faces contando mudas,
flutuando pesadas como flashes no frio.
A faísca, discreta,
germina sob a reprimida pele do chão.

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