N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O muro e a revolução

Havia chovido no dia anterior. Uma tempestade de gelo cortante, ventanias violentas, marcas em carros, vidros quebrados, janelas desprevenidas inundadas, árvores derrubadas. A manhã seguinte, porém, parecia transportada de outra estação. Não choveu ontem, nos tentava a paisagem azul e dourada e, sobretudo, quente.

Os meus passos naquela manhã são irrelevantes. O que fez o dia digno de lembrança foi o muro da casa da análise. Um muro amarelo, daqueles que se você encostar a mão sente a aspereza, se passar a mão se machuca. Nessa tarde, tinta preta, inescorrida, estampava o A dos anarquistas, dentro de um círculo negro sobre uma inscrição de Revolução.

Quanto a eu ter sido anarquista no passado, não me aventuro a definir a coincidência como acaso. Quanto ao amarelo ser a cor do intelecto, admiro a sintonia. Quanto à aspereza, ela se transmuda em fragrância no primeiro lance da escada.

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