N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

terça-feira, 8 de junho de 2010

Cinco anos, México

Gosto de copas. Sempre gostei. A primeira de que me lembro é a de 1986, no México. Eu me encantava com o meu primeiro álbum de figurinhas, que, com umas poucas oito ou dez páginas, exibia fotos das seleções, naquela pose clássica de alguns em pé e outros agachados, e destacava os principais jogadores da época, uns dez ou doze nomes que apareciam com seus rostos e camisas. Lembro-me de uns dois ou três alemães (na época, alemães ocidentais), um paraguaio, talvez um argentino (me escapa agora a memória), ingleses, franceses, italianos, e o que mais me marcou foi a de um polonês. Se me lembro bem, a foto dele era peculiarmente estranha, o pescoço parecia estar descolado do corpo, com a cabeça pendendo para a esquerda. Ela me dava arrepios. Lembro-me do Irã nessa copa. Não, acho que na verdade do Iraque. E tinha a guerra Irã-Iraque na época. Saddam era coleguinha dos Estados Unidos. Mas o que mais me lembro nessa copa é a França. Eu, um moleque de cinco anos, insanamente enraivecido, logo após a derrota nas quartas de final, apanhei uma caneta (numa ironia amarga, de tinta azul) e risquei a figurinha do amaldiçoado Platini, o maestro do time francês. O álbum se perdeu por aí. A lembrança, não.

Um comentário:

Gelly A. disse...

Algum dia um cientista há de demonstrar, com fórmula e tudo, a grandeza dessas memórias de infância. Lindo texto, Edu.