N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

No fundo dos meus olhos um despenhadeiro...

Você foi o melhor entre os piores dançarinos,
me conduzindo sem saber o que movia,
sonegando o inteirar-me
do seu desvelo de todos os espinhos
atravessados nas partes mais enrugadas
da minha pele adormecida.

Você me leu nas entrelinhas,
encontrando no espaço das palavras
um reflexo a focar suas feridas mesmas,
inequívocas e indiferentes às tentativas
de remendar, com cacos viscosos e vermelhos,
botelhas e taças em cristal quilatado,
toques transparentes em muros arrasados
e inchados da carga aterradora
de uma hipermetropia abominada,
sorrateiramente vulnerável
ao perfume dos macios roçares,
agonizando a cada passo
a atração pelo vinco das águas,
alvejadas de luar,
seguindo a velha embarcação.

Você não pôde ouvir o que eu te olhei,
alheio aos gritos que lancei ao seu vazio,
na imobilidade de uma canção ferida
e indolentemente abandonada.

Vou correr,
jogar-me do penhasco revolto
nas águas de um lago sem vento,
serei um sopro sem vela,
nadarei das águas escuras
ao infinito dos meus pulmões,
temerária confiarei em minhas pernas
e em meus braços desfolegados.

* Fotograma de Silver Linings Playbook, de David O. Russell (2012)

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